O presidente Jair Bolsonaro defendeu a indicação do desembargador Kassio Nunes, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em live na quinta-feira (1º), o presidente disse que busca um nome que seja "leal às nossas causas" dentro da Corte e ironizou:
— Vocês querem que eu troque pelo Sergio Moro?
— No ano passado todo, até mais ou menos abril deste ano, vocês queriam quem para o Supremo? Vocês queriam Sergio Moro para o Supremo. E me ameaçavam: "Se não for Sergio Moro para o Supremo, acabou!" — afirmou Bolsonaro. — Agora, vocês querem que eu troque o Kassio pelo Sergio Moro? E daí? Querem que eu faça o que? Acham que ele vai ser o ministro lá que vai ser leal às nossas causas?
A indicação do desembargador foi publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira (2). Para assumir como ministro, Kassio Nunes passará por uma sabatina no Senado e, depois, precisa ter nome aprovado por maioria absoluta dos senadores, de acordo com a Constituição Federal.
A indicação de Kassio agradou políticos do centrão, que buscam enfraquecer a Lava-Jato, e a ala do Supremo que faz restrições a investigações conduzidas pela força-tarefa, como os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli. O nome, porém, foi criticado por conservadores e grupos aliados do Planalto por decisões tomadas no passado e por não ser o perfil "terrivelmente evangélico" prometido.
Ao Estadão, o presidente da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) Uziel Santana criticou a indicação de Kassio Nunes.
— Em que pese as qualidades do Desembargador Kassio, acreditamos que ele não é o melhor nome que se adeque ao perfil conservador de magistrado que o próprio presidente Bolsonaro anunciou — afirmou.
A entidade defende o nome do ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, que é pastor da Igreja Presbiteriana Esperança, em Brasília.
Na live, Bolsonaro garantiu que a segunda vaga que deverá abrir no seu mandato, em julho do ano que vem com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello, será destinada a um nome evangélico e que vote "com os interesses dos conservadores".
— O primeiro requisito é ser evangélico, o segundo é tomar tubaína comigo — afirmou. — Eu quero que a pessoa vote com suas convicções, com os interesses dos conservadores, mas que busque maneira de ganhar uma coisa lá também. Eu não quero que ele entre mudo e saia calado, quero que ele converse.
Mendonça e o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, estariam "na fila", segundo o presidente.
Lagostas
Bolsonaro também aproveitou a live semanal para rebater críticas feitas ao desembargador Kassio Nunes sobre decisão que garantiu a compra de lagostas e vinhos importados para o Supremo Tribunal Federal (STF), no ano passado. O presidente chegou a dizer que o caso foi movido por "alguém" — a ação era de autoria da deputada Carla Zambelli (PSL-SP), aliada do Planalto.
— Não tem nada demais comer lagosta — afirmou Bolsonaro. — Não tem nada demais, qual o problema comer lagosta? Quem pode, come, quem não pode, não come.
A decisão de Kassio Nunes foi a que permitiu uma polêmica licitação do Supremo para a compra de bebidas, entre elas vinhos importados e premiados, e refeições, incluindo lagosta.
Na época, o pregão, que previa o gasto de até R$1,13 milhão, chegou a ser suspenso no âmbito de uma ação popular movida pela deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP). A parlamentar bolsonarista criticou o "luxo desnecessário" a membros do STF e acusou "potencial ato lesivo à moralidade administrativa" com a compra. A licitação também entrou na mira do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), mas acabou liberada por determinação do desembargador.