Com 12,8% do tempo de propaganda de rádio e TV e R$ 193,7 milhões para financiar as campanhas eleitorais em 2020, o PSL se tornou um dos partidos mais assediados na corrida municipal. No Estado, o PSDB foi mais ágil e fechou uma aliança no atacado com a sigla que elegeu o presidente Jair Bolsonaro. As duas legendas estarão juntas em pelo menos 14 municípios, entre eles quatro dos cinco maiores colégios eleitorais do Estado.
A coligação já foi praticamente formalizada em Porto Alegre, Caxias do Sul, Pelotas e Santa Maria, cidades com mais de 200 mil eleitores. A parceria também se estende a Passo Fundo, Erechim, Bento Gonçalves, Viamão, Venâncio Aires, Carazinho, Palmeira das Missões, Santiago, Bom Princípio e Coxilha.
- Há muitas semelhanças doutrinárias entre os dois partidos. Foram muitas conversas até chegarmos a esse alinhamento — diz o presidente do PSDB no Rio Grande do Sul, Mateus Wesp.
A união teve a chancela do governador Eduardo Leite (PSDB). Presidente estadual do PSL, o deputado federal Nereu Crispim é presença assídua no Palácio Piratini e tem dois filhos trabalhando no governo do Estado. Primeiro foi fechado um acordo nas cidades onde o PSDB está no comando das prefeituras, caso específico de Porto Alegre, Pelotas e Santa Maria. Aos poucos, a parceria foi se expandindo.
Na Capital, o prefeito Nelson Marchezan (PSDB) fez questão de ir a Brasília em fevereiro para formalizar a aliança diante do vice-presidente nacional dos sociais-liberais, Antônio Rueda. Dois meses depois, o ex-secretário municipal da Saúde Erno Harzheim se filiou ao PSL.
Responsável pelo cumprimento de uma das principais promessas de campanha de Marchezan ao estender o funcionamento de postos de saúde até as 22h, Harzheim também integrou a equipe do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e é tido como vice dos sonhos do prefeito na disputa à reeleição. Eles já conversaram a respeito, mas ainda não há definição sobre a montagem da chapa, sobretudo após o avanço do processo de impeachment de Marchezan na Câmara de Vereadores.
A perspectiva de aprovação do impedimento do prefeito acendeu o alerta de outros pré-candidatos, que passaram a cobiçar a aliança com o PSL. A sigla, no entanto, mantém o compromisso com Marchezan.
Em Pelotas, o PSL também está na disputa da indicação do vice da prefeita Paula Mascarenhas. Ex-secretário de Cultura do governo Bolsonaro, Henrique Pires assumiu o comando do diretório local e é o mais forte postulante a compor a chapa à reeleição.
O PSL tem dois ativos fundamentais para a campanha: tempo de TV e dinheiro. Somente para o Rio Grande do Sul, a direção nacional deverá enviar R$ 25 milhões do fundo eleitoral. O principal objetivo é usar os recursos e o largo espaço na propaganda eleitoral para tentar eleger um bom número de vereadores e, sempre que possível, estar presente nas coligações com maior chance de vitória.
Como o partido tem poucos quadros que possam representar candidaturas competitivas, a legenda concordou abrir da mão da cabeça de chapa em algumas cidades. Em outras, pretende negociar até o último momento.
— Tem muita gente ansiosa. Nós queremos vender o nosso peixe. Vamos ver quais candidatos têm um diferencial — comenta Crispim.
Em Santa Maria e Caxias do Sul, o PSL não deve indicar o vice de Jorge Pozzobom e de Adiló Didomenico, os pré-candidatos tucanos. Já em Passo Fundo, a sucessão foi parar na Justiça. Pré-candidato, Rodinei Candeia acabou escanteado por Crispim em troca do apoio ao tucano Lucas Cidade, ex-chefe de gabinete de Mateus Wesp na Assembleia Legislativa.
Revoltado, Candeia recorreu à Justiça, alegando abuso de poder, mas o caso acabou arquivado. De acordo com a juíza eleitoral Rossana Gelain, a ação só poderia ser ajuizada após o registro oficial das candidaturas, homologadas em convenção partidária, o que só deve ocorrer entre 31 de agosto e 16 de setembro.
A parceria com os tucanos também gerou uma situação inusitada para a bancada do PSL. Rompidos com a cúpula da legenda desde a desfiliação de Bolsonaro, em novembro do ano passado, seis dos sete parlamentares não irão fazer campanha para o próprio partido nas cidades onde houver aliança com o PSDB.
Assim, os deputados estaduais Capitão Macedo, Vilmar Lourenço, Ruy Irigaray e tenente-coronel Zucco, bem como os federais Sanderson e Bibo Nunes, tendem a pedir votos para candidatos alinhados ao PRTB do vice-presidente Hamilton Mourão. Em Porto Alegre, todos flertam com Sebastião Melo (MDB).
— Marchezan, não. Marchezan é do PSDB, capitaneado pelo (governador de São Paulo, João) Doria, inimigo do presidente — justifica Sanderson.