Em uma defesa inflamada de seu governo, o presidente Jair Bolsonaro cobrou lealdade de seus ministros na reunião do dia 22 de abril, afirmando que sua gestão pode estar indo na direção de um iceberg.
Ao dizer que não sofrerá impeachment por "frescura" ou "babaquice", deixou claro que pode haver uma crise institucional caso seja alvo de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de forma isolada.
— O nosso barco tá indo, mas não sabemos ainda [...] esse vírus, pra onde tá indo nosso barco. Pode tá indo em direção a um iceberg. A gente vai pro fundo. Então vamos se ligar, vamos se preocupar. Quem de direito, se manifesta, com altivez, com palavras polidas, tá? Mas coloca uma posição! Porque não pode tudo, tudo, veio pra minha retaguarda, tudo tá? E vocês têm que apanhar junto comigo, logicamente quando tiver motivo pra apanhar, ou motivo pra bater — afirmou o presidente aos ministros.
Essas palavras foram ditas logo após ele se referir à suposta libertação de estupradores em decorrência da covid-19, indicando que cobrava uma postura mais firme de Sergio Moro. Seu então ministro da Justiça e Segurança Pública deixaria o governo dois dias depois, acusando Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal.
Em vários momentos, Bolsonaro fala da ameaça de sofrer impeachment e, ao mesmo tempo, cobra ação efetiva de seus ministros em sua defesa:
— Acordem para a política e se exponham, afinal de contas o governo é um só. E, se eu cair, cai todo mundo.
Ele ainda insinua rupturas institucionais ao afirmar que pode não aceitar eventual decisão desfavorável vinda do STF:
— E, espero que eles não decidam, ou ele, né? Monocraticamente, querer tomar certas medidas porque daí nós vamos ter um... uma crise política de verdade. E eu não vou meter o rabo no meio das pernas. Isso daí... zero, zero. Tá certo? Porque, se eu errar, se achar um dia ligação minha com empreiteiro, dinheiro na conta na Suíça, porrada sem problema nenhum. Vai pro impeachment, vai embora. Agora, com frescura, com babaquice, não!
Uma das frescuras que cita é a cobrança judicial para que apresentasse seus exames sobre a covid-19. Ele indica ter receio de sofrer sanções por ter usado nomes de outras pessoas.
— Paralelamente a isso tem aí OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) da vida, enchendo o saco do Supremo, pra abrir o processo de impeachment porque eu não apresentei meu... meu exame de... de ... de... de vírus, essas frescurada toda — disse.
O presidente menciona ainda sua ida a atos antidemocráticos e ressalta que irá cumprir o artigo 142 da Constituição, cuja interpretação equivocada é sempre citada por defensores da ditadura miliar.
— Eu sou o chefe supremo das Forças Armadas. Ponto final. O pessoal tava lá, eu fui lá. Dia do Exército. E falei algo que eu acho que num tem nada demais. Mas a repercussão é enorme. "Ó, o Al-5." Cadê o Al-5? O AI-5 não existe, não existe ato institucional no Brasil mais. É uma besteira. Artigo um quatro dois. É um pessoal que não sabe interpretar a Constituição. Agora em cima disso fazer uma onda? —questiona Bolsonaro.
O artigo 142 estabelece, em seu caput: "As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem".
Bolsonaro diz não ter amor pela cadeira de presidente:
— Eu tô me lixando com a reeleição.
Na reunião, o presidente defende ainda que a população brasileira seja armada para poder resistir à imposição de uma nova ditadura no país. Segundo ele, "é fácil impor uma ditadura no Brasil".
— Por isso que eu quero que o povo se arme. Que é a garantia que não vai ter um filho da puta aparecer pra impor uma ditadura aqui. Que é fácil impor uma ditadura. Facílimo", disse. "Por que eu estou armando o povo? Porque eu não quero uma ditadura. E não dá pra segurar mais. Não é? Não dá pra segurar mais — acrescentou.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, também fala sobre possível impeachment de Bolsonaro, dizendo que "não tem jeito de fazer impeachment se a gente tiver com as contas arrumadas".
Na reunião, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, defendeu a prisão de ministros do Supremo.
— Eu por mim colocava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF — disse Weintraub.
Já a ministra Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, fez críticas à ação de governadores e prefeitos favoráveis à manutenção do distanciamento social durante a pandemia do novo coronavírus e, sem dar detalhes, disse que a sua pasta já estava pedindo a prisão de alguns governadores.
— A pandemia vai passar, mas governadores e prefeitos responderão processos e nós vamos pedir inclusive a prisão de governadores e prefeitos. E nós tamo subindo o tom e discursos tão chegando. Nosso ministério vai começar a pegar pesado com governadores e prefeitos — disse Damares.