A sexta-feira prometia turbulência com a decisão do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o vídeo de uma reunião ministerial. Mello esperou o mercado quase fechar para liberar as imagens – e os sons – que impressionaram os brasileiros. Mas, outra vez, veio do Planalto o sinal de intensificação da crise política. A nota do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, ameaçando "consequências imprevisíveis" em caso de apreensão do celular do presidente Jair Bolsonaro devolveu gravidade à incerteza política depois de uma semana de trégua.
Entre segunda e quinta-feira, o risco Brasil medido pela pontuação do Credit Default Swaps (CDS) caíra 13,5%. O dólar havia voltado ao patamar de R$ 5,50 depois de roçar R$ 6, e a bolsa retomara os 80 mil pontos. Na sexta-feira, as duas novas fontes de preocupação chegaram tarde e permitiram que o câmbio ficasse quase estável, enquanto a bolsa recuou 1%. Saiu barato. Mais grave do que a oscilação diária será a alta volatilidade a que o país estará submetido.
– São sinais de que os ruídos vão continuar. A tensão política nos próximos meses vai subir, não cair – disse à coluna Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV.
Dias antes, Padovani havia avaliado, em relatório, que "a despeito de um ambiente global mais favorável, há muito pessimismo com o Brasil. Uma explicação possível (...) é o aumento das incertezas políticas locais, que pode ter como preço uma recessão mais profunda que o necessário."
Não era inevitável que a tensão pré-vídeo azedasse a semana que começou com promessa de trégua. Foi o que o presidente escolheu bater de frente com seu ministro da Justiça, Sergio Moro, sem que houvesse qualquer necessidade de fazê-lo do ponto de vista do interesse público.