Foi uma reunião virtual sem resultados práticos, mas com um poderoso efeito simbólico: o distensionamento, ao menos temporário, da relação entre o presidente Jair Bolsonaro e o os governadores. Marcado há dias, o encontro foi cercado pela expectativa de que o Planalto enfim anunciaria a sanção ao projeto de ajuda a Estados e municípios esperada há mais de 15 dias. Não aconteceu, mesmo que os governadores tenham feito seu papel: explicitado o apoio ao congelamento dos salários dos servidores estaduais até o final de 2021.
Ficou a impressão de que uma das partes entregou seu compromisso e a outra não, mas como Bolsonaro prometeu sancionar "ainda nesta semana", reforçou a expectativa de que cumprirá seu papel. Coube ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, tentar dar uma explicação vaga para as "dificuldades técnicas" que impediram a sanção até agora, envolvendo uma categoria muito cara ao presidente, a Polícia Federal.
Na verdade, restou uma pendência importante. Se está claro que as exceções ao congelamento serão vetadas, com divisão no desgaste perante essas categorias com os governadores, não ficou claro o que pode ocorrer com outro pedido. Houve um apelo explícito para que o Planalto não vete o parágrafo quarto do artigo sexto. Trata-se da possibilidade de que, diante da impossibilidade de os Estados pagarem financiamentos em bancos privados ou organismos multilaterais, a União banque esses compromissos, como é previsto. Mas que não execute a contrapartida, que seria reter pagamentos de repasses constitucionais.
O Rio Grande do Sul terá uma fatia de R$ 1,95 bilhão em recursos livres e mais R$ 400 milhões em direcionados à saúde. Quando o projeto foi aprovado, simbolicamente em uma noite de sábado, porque era urgente, a expectativa é de que a primeira das quatro parcelas, de cerca de R$ 480 milhões, para o dia 15 passado. Passaram-se quase sete dias, e ainda há dúvidas sobre quando o dinheiro vai chegar em um Estado que já tinha dificuldades e acumula perda equivalente a uma folha salarial. O saldo simbólico da reunião foi positivo, mas entraria para a história, de fato, como se tivesse gerado efeitos práticos.