O senador e ex-presidente da República Fernando Collor de Mello (PTC-AL) afirmou, nesta terça-feira (26), que seu maior erro durante o mandato foi não ter construído base parlamentar sólida no Congresso. Em entrevista à colunista Carolina Bahia no Live GZH, avaliou que, assim como ocorreu enquanto era chefe do Executivo nacional, há um "clima instalado" de impeachment do governo de Jair Bolsonaro.
— As nossas diferenças são bem maiores que as eventuais semelhanças que se apresentem. O que eu vejo de coincidência, como grande equívoco, é a falta de atenção que o atual governo, o presidente da República, vem dando à construção de sua base parlamentar. O presidente precisa entender que ele é o líder político da nação. Como líder político da nação ele precisa fazer política. E fazer política pelos canais institucionais, que são os partidos políticos e os políticos — disse. — É fundamental que ele consiga construir essa base porque no regime presidencialista, em uma democracia, governo que não detém maioria parlamentar no Congresso Nacional não conclui o seu mandato.
O ex-presidente, contudo, destacou que o atual momento — no qual o mundo passa pela pandemia do coronavírus — não é adequado para passar por esse processo.
— Estamos vendo um clima instalado de impeachment, embora eu seja contra qualquer iniciativa de se tratar de impeachment no momento em que vivemos uma pandemia como essa. (...) Falar de um impeachment agora é querer trabalhar para o caos absoluto. E aí sim para uma crise mais do que institucional, é uma crise que se abaterá de forma cruel para todos nós — defendeu.
Collor também criticou a reunião ministerial, divulgada na última sexta-feira (22) por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, no âmbito do inquérito que apura se houve ingerência de Bolsonaro na Polícia Federal (PF). Afirmou que o encontro foi "lamentável" e que "fugiu à liturgia que se exige de uma reunião da Presidência da República com o corpo de ministros".
— O que nós vimos foi uma reunião que se tratou de problemas pessoais da pessoa física do presidente da República, ele esquecendo que estava ali no exercício da Presidência, da instituição Presidência da República, e que temas nacionais deveriam estar sendo debatidos, sobretudo um tema que nos aflige, que é a questão da pandemia do covid-19. Isso foi tratado por três minutos por um ministro recém-chegado e também depois recém-saído, logo depois ele saiu da pasta — disse.
O ex-presidente também comentou sobre sua interação com internautas no Twitter. No dia 18 de maio, ele chegou a publicar na rede social um pedido de desculpas pelo confisco do saldo de cadernetas de poupança, uma decisão que ele classificou como “dificílima”. Questionado sobre o motivo de fazer isso agora, 30 anos depois, o ex-presidente afirmou que sempre pediu desculpas, mas nunca em uma rede social que atinge tantas pessoas ao mesmo tempo:
— Na realidade, o pedido de desculpas veio logo após do meu afastamento de Presidência da República e nas entrevistas diversas que concedi ao longo desse período sempre quando se tratava do bloqueio dos ativos, porque na verdade não foi apenas a poupança. (...) A novidade é que eu pedi desculpas e pedi perdão agora pelas redes sociais. Então essa nova ferramenta que hoje dispomos para interagir com a população é que deu essa dimensão impressionante, eu fiquei impressionado.
O Plano Collor limitou os saques a 50 mil cruzeiros, moeda que substituiu o cruzado novo. A promessa do governo à época era controlar a inflação e desbloquear o dinheiro um ano e meio depois. O controle da inflação só veio em 1994, com o Plano Real. As perdas dos poupadores com o Plano Collor é discutida na Justiça até os dias de hoje.
Quanto às críticas que recebe na rede social em relação ao seu mandato, Collor destacou que dados de um levantamento apontam que a idade média daqueles que participam das interações na rede social tem uma faixa majoritária de 25 a 35 anos. Contudo, ele saiu da Presidência há quase 30 anos.
— Nessa faixa de 35 a 25 anos de idade, ou não eram nascidos ou eram muito crianças ainda para saber o que de fato aconteceu. O que eles tem hoje é o que foi informado nas escolas, foi informado de forma simplista nas escolas. E o que foi informado era uma face menos nobre das atividades minhas como presidente da República. Esqueceram-se os professores de dizerem os lados positivos do meu governo — disse, citando a abertura comercial, lei do Direito do Consumidor, Lei Rouanet, entre outras medidas tomadas durante seu mandato.
O ex-presidente também afirmou que contam apenas parte da história relativa aos processos judiciais que passou. De acordo com o senador, não se comenta sobre o fato que ele também foi absolvido de ações de corrupção no Supremo Tribunal Federal:
— Falam das acusações que eu recebi durante o meu governo, e as acusações todas baseadas nas suposições de que eram verdadeiras. Porque depois de dois anos de investigação (...) tudo isso foi levado ao julgamento do Supremo Tribunal Federal, que me declarou inocente das acusações. Contam talvez uma parte da história, de que eu fui acusado dessas ações de corrupção, mas não contam que o Supremo Tribunal Federal depois me absolveu.
Ao final da entrevista, Collor também comentou sobre seu futuro na política. Disse que, após sobreviver à pandemia, o "caminho natural" é tentar sua reeleição ao Senado.