No seu depoimento ocorrido no sábado (2), o ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública Sergio Moro afirmou à Polícia Federal que o presidente Jair Bolsonaro declarou a ele que queria "apenas" a superintendência da Polícia Federal do Rio — o primeiro ato do novo diretor-geral, Rolando Alexandre de Souza, nomeado na segunda (4), foi justamente trocar esse cargo.
Segundo Moro, ele recebeu uma mensagem pelo Whatsapp de Bolsonaro, "solicitando, novamente, a substituição do Superintendente do Rio de Janeiro, agora CARLOS HENRIQUE".
"A mensagem tinha, mais ou menos o seguinte teor: Moro você tem 27 Superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro'", segundo o documento.
Moro também descreveu como foi a exoneração do ex-diretor geral da PF Maurício Valeixo. Ele reafirmou que a exoneração a pedido, como foi publicada no Diário Oficial, não aconteceu, e que o ex-diretor geral poderá esclarecer melhor.
"O Declarante não assinou o decreto de exoneração de MAURÍCIO VALEIXO e não passou pelo Declarante qualquer pedido escrito ou formal de exoneração do Diretor VALEIXO; na manhã do dia 24 de abril de 2020, encontrou-se com VALEIXO e ele lhe disse que não teria assinado ou feito qualquer pedido de exoneração; (Valeixo) disse ao Declarante que, na noite do dia 23 de abril de 2020, teria recebido uma ligação do Planalto na qual o Presidente teria lhe dito que ele, VALEIXO, seria exonerado no dia seguinte e lhe perguntado se poderia ser "a pedido"; (Valeixo) disse ao Declarante que como a decisão já estava tomada não poderia fazer nada para impedir, mas reiterou que não houve, nem partiu dele, qualquer pedido de exoneração; (Valeixo) poderá esclarecer melhor o conteúdo dessa conversa".
Para o ex-ministro, "os motivos pelos quais o presidente queria substituir VALEIXO por RAMAGEM devem ser indagados" ao próprio Bolsonaro. O presidente teria ainda sugerido outros dois nomes para diretor-geral da Polícia Federal, além de Ramagem, mas esses "não tinham a qualificação necessária", segundo Moro.
"(Moro afirma) Que, respeitosamente, diante das declarações públicas do Presidente da República, entende que a caberia a ele esclarecer os motivos das sucessivas trocas pretendidas na SR/RJ, da troca efetuada do DG da Polícia Federal bem como, que caberia a ele esclarecer que tipo de informação ou relatório de inteligência de PF pretendia obter mediante interação pessoal com o DG ou SR/RJ, além de esclarecer que tipo de conteúdo pretendia nesses relatórios de inteligência, já que tinha acesso à produção de inteligência da PF via SISBIN e ABIN".
Por fim, o ex-ministro afirmou que, diante do que disse Bolsonaro em um discurso horas depois da demissão, Moro "permanece fiel aos compromissos de integridade e transparência, bem como de autonomia das instituições de controle, superiores a lealdade pessoais".