Em depoimento prestado nesta segunda-feira (11), o ex-diretor-geral da Polícia Federal (PF) Maurício Valeixo disse que o presidente Jair Bolsonaro decidiu exonerá-lo porque queria no cargo alguém de sua confiança. Segundo pessoa com acesso à oitiva, Valeixo contou que Bolsonaro lhe disse não ter nada contra a sua pessoa, mas que buscava um diretor com quem tivesse mais afinidade.
O depoimento, em inquérito que apura se o presidente da República tentou interferir indevidamente na corporação, começou de manhã e, após um intervalo, prosseguiu na tarde desta segunda na Superintendência da PF em Curitiba.
O relato de Valeixo condiz com declaração pública de Bolsonaro. Ao discursar em 24 de abril, logo após ex-ministro Sergio Moro deixar o cargo, o presidente descreveu uma conversa com o titular da Justiça sobre a troca de comando na corporação.
— Quero um delegado, que pode não ser o seu, que pode não ser o meu, mas que eu sinta, além da competência óbvia, se bem que isso é uma coisa comum entre os delegados da Polícia Federal, que eu possa interagir com ele. Por que não? Eu interajo com os homens de inteligência das Forças Armadas, se preciso for, eu interajo com a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), interajo com qualquer um do governo — disse Bolsonaro.
Valeixo foi demitido em abril, estopim para a crise que culminou com a saída do ex-ministro da Justiça Sergio Moro do governo. No evento de sua despedida do cargo e em depoimento à PF, o ex-juiz da Lava Jato acusou Bolsonaro de ingerência política na corporação.
Com base nas suspeitas lançadas, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao Supremo a abertura do inquérito para apurar se houve alguma conduta criminosa por parte de Bolsonaro e, em outra hipótese, se Moro pode ter feito denúncia caluniosa.
Nesta segunda, também depõem à PF, em Brasília, o delegado Alexandre Ramagem, cuja nomeação para substituir Valeixo foi barrada pelo Supremo diante de indícios de desvio de finalidade, e o ex-superintendente da PF no Rio de Janeiro Ricardo Saadi, que deixou o cargo no ano passado, após Bolsonaro pressionar por sua saída.