Três dias depois da crise instalada no governo com a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse nesta segunda-feira (27) que o episódio não se deu de forma apropriada.
— Dentro da minha cultura, a forma como o ex-ministro Moro saiu não é a mais apropriada. Ele poderia simplesmente ter solicitado sua demissão. Só isso já seria um problema para o governo pelas próprias características do Sergio Moro e tudo o que ele representa para o país. Vida que segue agora — disse Mourão em uma videoconferência com a consultoria política Arko Advice.
Ao anunciar sua demissão do governo federal na sexta-feira (24), Moro apontou fraude no Diário Oficial da União no ato de demissão de Maurício Valeixo do comando da Polícia Federal e criticou a insistência do presidente Jair Bolsonaro para a troca do comando do órgão, sem apresentar causas que fossem aceitáveis.
Moro afirmou que Bolsonaro queria ter acesso a informações e relatórios confidenciais de inteligência da PF.
— Não tenho condições de persistir aqui, sem condições de trabalho — disse, acrescentando que "sempre estará à disposição do país".
Na videoconferência, Mourão afirmou que Moro teve "um papel importantíssimo na vida nacional" ao longo da Operação Lava-Jato.
— Por sua resiliência, por sua seriedade, ganhou papel importante na mitologia nacional, na mitologia temporária que se vive no Brasil — disse o vice-presidente.
— Fez um bom trabalho no Ministério da Justiça. Como todo e qualquer relacionamento entre um chefe e seu subordinado, aconteceram algumas rusgas — afirmou Mourão.
Diálogo com o centrão
Indagado sobre a aproximação de Bolsonaro com partidos do chamado centrão, como Republicanos, PP e PL, conhecido por trocar apoio no Congresso por recursos e cargos, Mourão afirmou que trata-se de uma busca por estabilidade.
O vice-presidente disse que, no começo do governo, havia um entendimento de que seria possível governar com base no pragmatismo e nas ideias reformistas da agenda de Bolsonaro.
— Num primeiro momento, esta concertação funcionou — disse Mourão. — A partir do final do ano passado e começo do ano (2020), obrigou o presidente a buscar nova forma de diálogo com o Congresso, com aproximação mais cerrada junto aos partidos, de modo que construa uma base que lhe dê certa estabilidade — afirmou o vice-presidente.