O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta sexta-feira (3) que, apesar dos ataques, o presidente Jair Bolsonaro não tem coragem de demitir o ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e mudar a política de enfrentamento ao coronavírus.
As declarações foram feitas durante videoconferência promovida pelo jornal Valor Econômico com o banco Itaú e que contou com a participação de Mário Mesquita, economista-chefe do banco.
O deputado criticou os ataques de Bolsonaro ao ministro da Saúde.
— É fundamental que, no meio do processo (de enfrentamento à doença), a gente não tenha uma perda de um nome como o do Mandetta — disse.
Segundo Maia, uma eventual troca mudaria a política do Ministério da Saúde e significaria que Bolsonaro não acredita no que o ministro está fazendo.
— Ao mesmo tempo, ele (Bolsonaro) não tem coragem de tirar o ministro e mudar oficialmente a política. Ele fica numa posição dúbia.
Para o presidente da Câmara, Bolsonaro mais atrapalha do que ajuda quando vem a público criticar o ministro, mas Mandetta tem tido "paciência e todo equilíbrio" para continuar reafirmando a mesma posição do ministério, sem se submeter à pressão do presidente.
Maia lembrou que Mandetta foi escolhido por Bolsonaro.
— Esse conflito que ele constrói agora com o ministro, do ponto de vista concreto, não faz sentido, porque ele delegou ao ministro a área técnica — afirmou o deputado.
Ele ainda sugeriu que o presidente estaria ouvindo "quem quer o cargo do Mandetta de forma oportunista" e que uma troca de comando do Ministério da Saúde seria decisão política de Bolsonaro. Afirmou ainda que "toda decisão política tem consequência."
Para Maia, apesar dos ataques, Bolsonaro reconhece o trabalho do ministro:
— Temos toda confiança, e todo respaldo que o ministro precisar da maioria da Câmara, no meu mandato, na minha presidência, ele tem.
Na noite de quinta-feira (2), Bolsonaro afirmou que está faltando "humildade" ao ministro da Saúde:
— Mandetta em alguns momentos teria que ouvir um pouco mais o presidente da República.
Questionado sobre as declarações do presidente, Mandetta apenas respondeu inicialmente: "ok".
— Não comento o que o presidente da República fala. Ele tem mandato popular, e quem tem mandato popular fala, e quem não tem, como eu, trabalha — declarou.
Em seguida, disse que estava analisando dados sobre o coronavírus e preocupado com a situação de algumas regiões.
— Acho que estamos frente a uma doença nova, e está todo mundo aprendendo com essa doença. Vamos saber o que ela vai fazer com nosso sistema de saúde. Rezo a Deus que nada disso aconteça aqui, que eu esteja absolutamente errado, que toda a ciência esteja absolutamente errada — afirmou o ministro.
Mandetta e Bolsonaro travam um embate desde o começo da crise. O ministro tem defendido políticas de isolamento social frente à pandemia, incluindo o fechamento de estabelecimentos comerciais, como forma de evitar aglomerações e a proliferação da doença.
Bolsonaro, no entanto, tem criticado esse discurso e as medidas, defendidas por Mandetta, adotadas pelos governadores de decretar uma quarentena.