O presidente da República Jair Bolsonaro admitiu, nesta quinta-feira (2), que tem divergências quanto à condução do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, no combate à pandemia de coronavírus. Segundo o mandatário, falta humildade para o titular da pasta, que "quer fazer muito a vontade dele".
— O Mandetta sabe que a gente tá se bicando há algum tempo. Eu não pretendo demiti-lo em meio à guerra. Ele sabe que, em algum momento, ele extrapolou. Ele montou um ministério com a sua vontade. (...) No meio do combate, nenhuma ameaça ao Mandetta não. Se ele se sair bem, sem problema nenhum. Agora, nenhum ministro é indemissível. Em alguns momentos, ele teria que ouvir mais o presidente da República. Ele cuida da saúde, o Guedes cuida da economia, e eu tô no meio dos dois. As duas áreas são importantes. O Mandetta quer fazer muito a vontade dele. Pode ser que ele esteja certo, mas tá faltando um pouco mais de humildade — declarou Bolsonaro em entrevista à rádio Jovem Pan, de São Paulo.
Quando questionado sobre quais momentos Mandetta teria que ouvi-lo mais, Bolsonaro disse que "alguns profissionais" do Ministério da Saúde ajudaram a estabelecer um clima de histeria e pânico:
— Eu acho que tudo o que eu já falei, isolamento vertical, horizontal, a questão do emprego, poderia já estar tratando desse assunto, até porque o presidente disse que não pode ser abandonado. O que aconteceu por parte de uns profissionais do ministério dele, aquela histeria, aquele clima de pânico, que aconteceu há uns 40 dias. Agora, está no momento de colocar o pé no chão. Se destruir o vírus e destruir os empregos, vamos destruir o Brasil.
Depois das críticas, o presidente desejou boa sorte ao ministro.
— Boa sorte ao Mandetta, espero que ele consiga nessa missão, com um pouco mais de humildade, e espero que, nesse mar revolto, a gente consiga dizer que fizemos o bom combate — complementou
"Comecem a abrir o comércio", diz Bolsonaro a governadores
Nesta quinta-feira (2), governadores dos Estados do Sul e do Sudeste divulgaram uma carta na qual pediram ajuda imediata do governo federal para combater a crise econômica derivada da pandemia de coronavírus. Em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente criticou os chefes do Executivo das unidades federativas, especialmente João Doria (São Paulo) e Wilson Witzel (Rio de Janeiro), que eram seus aliados e se tornaram desafetos.
Na entrevista à Jovem Pan, Bolsonaro reclamou novamente das medidas de restrição de atividades tomadas pelos governadores e prefeitos, afirmando que, na sua opinião, querem "destruir a economia", e respondeu aos pedidos de ajuda imediata:
— Comecem a abrir o comércio. Se não for imediatamente, que seja paulatinamente. Seria mais prudente abrir o comércio, de forma paulatina, a partir da próxima segunda-feira. Se eles estão pensando em sufocar a economia para desgastar o governo, a população já sabe quem está fazendo de forma errada.
Ao criticar particularmente o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, afirmou que não haveria necessidade de "fechar a praia", pois é ao "ar livre", e ironizou o fato de o Estado ter fechado o comércio mesmo com problemas financeiros sérios.
— Eu quero que o senhor Witzel tire (o dinheiro) do bolso dele. O que ele fez foi uma tremenda irresponsabilidade. Mandou fechar, isolar toda a cidade. Nem o rei fez isso no passado. Está destruindo emprego. Dentro da comunidade, o comércio está funcionando. Porque ele não manda fechar lá? Tem que valer para todo mundo — afirmou Bolsonaro.
Bolsonaro, entretanto, afirmou que o Rio Grande do Sul é "um caso a parte" nas medidas de isolamento social.
— O Rio Grande o Sul é um caso a parte. A minha preocupação, quando chegar o inverno, é quando for liberada a quarentena deles, mais gente for contaminada de uma forma enorme. 70% da população será infectada, o país será imunizado. É a chuva que vai molhar a população. Não tem como fugir dessa realidade — declarou Bolsonaro.