A prefeita de Paris Anne Hidalgo, concedeu nesta segunda (2) ao ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva o título de cidadão honorário da capital francesa. A cerimônia foi realizada no início da tarde na prefeitura, com Dilma Rousseff e Fernando Haddad na plateia.
Lula foi recebido por gritos da plateia e discursou em português, lembrando os dias na cadeia e se referindo ao ex-juiz e atual ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro como "criminoso".
— Eu tomei a decisão de me entregar (em abril de 2018), eu poderia não ter sido preso, poderia ter ido para uma embaixada, mas mesmo com mais de 70 anos decidi ir até a Polícia Federal porque alguém tinha que provar que o juiz Moro era criminoso e que os representantes do Ministério Público que me acusaram eram mentirosos — disse.
Lula foi condenado por Sergio Moro à prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá em 2017, quando o atual ministro da Justiça ainda era juiz responsável pelos casos da Lava-Jato na 13ª Vara Federal de Curitiba. Segundo o MPF, o petista recebeu o triplex do Guarujá como propina da empreiteira OAS no valor de R$ 3,7 milhões como contrapartida por ajudar a OAS a firmar três contratos com a Petrobras. A condenação foi ratificada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que reduziu a pena de Lula para oito anos e dez meses. Ele foi preso em abril de 2018. Devido à mudança de entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre cumprimento de pena em segunda instância, Lula foi solto da prisão em novembro de 2019.
Lula disse, ainda, que o Brasil vive "o resultado de um processo de enfraquecimento do processo democrático" e um cenário de "desprezo mesquinho pelos direitos do povo". O ex-presidente falou também sobre a "felicidade ilimitada" por estar em liberdade e por ter ao lado a noiva, Rosângela. Ela acompanhou a cerimônia no palco, ao lado de Dilma Rouseff e Fernando Haddad.
De acordo com a Prefeitura de Paris, "a cidadania honorária é concedida em caráter excepcional a pessoas que se destacaram particularmente na defesa dos direitos humanos, a fim de afirmar o apoio de Paris nessas lutas e proteger os destinatários dessa distinção". O nome de Lula foi aprovado para receber o título em outubro do ano passado pelo Conselho de Paris, que destacou que "os direitos civis e políticos do ex-presidente do Brasil foram desprezados". Na época, ele ainda estava preso.
No Twitter, o ex-presidente escreveu sobre o acontecimento. "O povo de Paris me acolhe hoje entre seus cidadãos, como um reconhecimento pelo que fizemos, junto com tantos companheiros e com intensa participação social, para reduzir a desigualdade e combater a fome no Brasil", publicou.
Ainda nesta segunda-feira, Lula, Dilma e Haddad almoçaram com o ex-presidente francês François Hollande.
"Conversamos muito sobre a conjuntura no Brasil e na França e as tarefas que precisamos cumprir para retomar os governos de inclusão e com mais justiça social", disse Lula ao publicar fotos do encontro no Twitter.
No domingo (1º), o ex-presidente e os dois companheiros de partido se reuniram com lideranças políticas francesas. Estavam presentes o deputado francês Eric Coquerel e o líder do grupo França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, que visitou Lula em Curitiba quando o ex-presidente estava preso na sede da Polícia Federal.