Faltando pouco mais de 20 horas para o início da apreciação do pacote do funcionalismo na Assembleia Legislativa, o governador Eduardo Leite recebeu um recado da bancada do MDB. Durante reunião na tarde desta segunda-feira (16), os deputados disseram que só estão dispostos a votar o projeto que aumenta alíquotas dos servidores civis. As outras seis matérias, anunciou o líder da bancada, Fábio Branco, não têm apoio para serem votadas nessa semana.
Mesmo o texto que estabelece cobrança de até 18% aos servidores enfrenta resistência entre os parlamentares. A bancada considera uma taxação muita alta cobrar 14% de quem ganha entre R$ 998, o salário mínimo nacional, e R$ 5,8 mil, o teto do INSS. A ideia é insistir com o governo para estabelecer faixas de cobrança, de preferência com alíquota de 14% somente para quem ganha acima de três salários mínimos (R$ 2.994).
— Algumas alterações precisam ser feitas. Quem ganha menos, tem de pagar menos. E quem ganha mais, tem de pagar mais — salientou Branco.
Se o governador insistir em colocar em os demais projetos, o MDB deve se retirar do plenário. Emparedado pela maior bancada da base aliada, cujos oito votos são fundamentais para aprovar a PEC da Previdência, em janeiro, o governador pediu tempo para considerar a posição dos emedebistas.
Uma nova reunião, desta vez entre os líderes do consórcio governista, foi marcada para às 18h30min. A ideia é construir uma proposta conjunta da base para apresentar ao governador. Embora tenham assegurado fidelidade a Leite, os demais partidos estavam incomodados com o protagonismo exercido pelo MDB na negociação do pacote. As legendas querem evitar a impressão que estão aderindo de forma inconteste ao plano do governo, enquanto os emedebistas se reaproximam do funcionalismo.
— Temos divergências? Temos. Mas estamos caminhando todos na mesma direção, vamos acertar o passo — tentou minimizar o líder do governo na Assembleia, Frederico Antunes.
Os deputados do MDB se dirigiram ao Palácio Piratini após uma reunião interna que consumiu mais de duas horas. Desde o meio-dia, eles discutiram os termos que seriam apresentados ao governador. O ambiente era tenso. Faltando 10 minutos para o início da audiência, o líder do MDB, Fábio Branco, usou seu perfil no Twitter para reclamar de dois atos de Leite que causaram “mal-estar na base do MDB”.
O primeiro foi um vídeo postado pelo tucano no qual o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirma que ele recebeu uma “herança dramática”. O segundo foi uma uma declaração na qual Leite diz não ter cumprido a promessa de colocar os salários em dia no primeiro ano de governo porque teve de quitar folhas pendentes de 2018.
— Sabemos que ele fez promessas que não conseguiu cumprir, só que ele não pode agora sair em busca de um culpado — retrucou Branco.
Mais cedo, a bancada já havia manifestado desconforto com a entrevista concedida por Leite ao programa Atualidade, da Rádio Gaúcha. Ao citar o tamanho da base governista na Assembleia, o governador passou a impressão de desdenhar dos oito votos do MDB. Em conversas reservadas, os emedebistas disseram que faltou habilidade e timing ao tucano, sobretudo na véspera de uma votação tão importante para o governo e diante da maior bancada do Parlamento.
— O MDB tem meu maior respeito e consideração, tenho honra em contar com eles na base aliada, mas são oito (deputados do MDB) dentro desses 40 (deputados da base aliada). Temos ainda 32 deputados da base aliada do governo, de diversos partidos, maiores e menores, que nos dão muita segurança em encaminhar essas votações — afirmou Leite na entrevista.
O governador tentou amenizar o desconforto durante a reunião, dizendo que apreciava a participação do MDB no governo e considerava o partido fundamental na governabilidade. Agora, o tucano corre contra o relógio para avaliar as concessões que poderá fazer e viabilizar a aprovação do pacote. A despeito da resistência na base, segue a intenção de dar a largada na votação do pacote nesta terça-feira (17).
— Começamos a votar amanhã. Alguns projetos podem se juntar à PEC da Previdência (que será votada em janeiro). Até o dia da votação podemos discutir alterações — afirmou Antunes, abrindo brecha para novas negociações.