Aos 89 anos e indignado com a situação do país, o ex-senador Pedro Simon (MDB) chamou a atenção, no último sábado (9), da multidão que se reuniu no Parque Moinhos de Vento, na Capital, para protestar contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que resultou na libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No ato, Simon fez críticas à Corte e clamou ao Congresso, para que inclua, na Constituição, a possibilidade de execução da pena após sentença em segunda instância.
Desde Brusque (SC), onde deu palestra neste domingo (10), Simon conversou com GaúchaZH por telefone. Além de contar por que decidiu participar da manifestação em Porto Alegre, reforçou a posição contrária ao julgamento do STF, afirmou que percorrerá o Brasil defendendo o protagonismo da Câmara e do Senado, defendeu o ministro da Justiça, Sergio Moro, e disse temer o avanço da polarização no país.
Por que o senhor decidiu participar da manifestação?
Porque acho que esse é um momento extraordinariamente importante na vida do Brasil. Foi dramática e dolorosa a decisão do Supremo. O Congresso tem a responsabilidade de tomar uma decisão: salvar o Brasil. Soube que os presidentes da Câmara (Rodrigo Maia) e do Senado (Davi Alcolumbre) pretendem botar em votação a medida que visa repor a prisão em segunda instância. Vou percorrer o Brasil defendendo isso e fiz um apelo aos jovens. Hoje, cada jovem pega o celular e cria uma rede que movimenta ideias. Temos de fazer isso no Brasil inteiro. Eu estava em casa, tenho quase 90 anos, mas preciso desabafar e estou fazendo a minha parte. O Congresso tem de tomar essa decisão. Se fizer isso, o Brasil se recompõe.
Não seria uma afronta ao Supremo?
Não. O próprio presidente do STF (Dias Toffoli) disse que caberia ao Congresso tomar a decisão. Ele, de certa forma, passou a mensagem de que o Supremo abre esse caminho.
Muita gente critica e até questiona a existência no Supremo. Que avaliação o senhor faz da Corte?
Quando apareceu a TV Justiça, achei muito bacana, mas hoje sou obrigado a dizer que tem sido uma forma de ministro aparecer. Até hoje, não entendi por que Gilmar Mendes mudou de voto de três anos para cá. É uma situação trágica. O STF tem de voltar a ser uma Corte suprema.
O senhor, que sempre criticou os corruptores, não fica chateado pelo fato de muitos terem escapado da prisão ao fazer delação premiada?
Bom, mas no mundo inteiro é assim. A delação é uma arma que pode ser usada para buscar a verdade. É um expediente que o mundo inteiro usa. Sergio Moro (ex-juiz e ministro da Justiça) é uma pessoa extraordinária, um grande homem. Se ele cometeu um equívoco aqui ou ali... mas as roubalheiras, foi ele quem inventou? Ou aconteceram de fato?
Como ficará a política brasileira e a polarização a partir de agora, com Lula solto?
Para o Brasil, é uma desgraça. Se nós entrarmos nisso, vamos ter de impedir. É muito ruim e será o pior.
O que o senhor tem achado do governo Eduardo Leite?
Ele não é culpado de nada que está acontecendo. A situação é grave e difícil, e isso não é de hoje. Agora, ele cobrou do Sartori (José Ivo Sartori, ex-governador) por não pagar a folha do funcionalismo em dia e agora não consegue pagar também, então fica nessa história...
Leite se equivocou, já que está descumprindo uma promessa de campanha?
Que descumpriu, isso descumpriu. Mas não tem como cumprir. Ele fez uma afirmativa aleatória. A situação é muito difícil. Se nós não nos unirmos para tomarmos decisões em conjunto, não tem saída.