Confinado a uma sala exígua no último andar da sede da Polícia Federal do Paraná, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com indiferença, na quinta-feira (7) à noite, ao resultado do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que no dia seguinte lhe abriria as portas da liberdade. Foi somente 18 horas depois, por volta das 16h de sexta-feira, que ele enfim receberia a tão esperada notícia, trazida por um agente federal: o alvará de soltura estava prestes a ser emitido, e a saída da prisão era questão de pouco tempo.
Apesar do ceticismo inicial, cultivado por Lula após as frustradas tentativas anteriores de deixar a cadeia, durante todo o dia havia um clima de euforia no ar. Ainda pela manhã, o advogado Cristiano Zanin Martins esteve com Lula na PF, pouco antes de ingressar com o pedido de liberdade na 12ª Vara Federal de Curitiba. Aos poucos, começaram a chegar familiares, amigos, políticos e aliados. No meio da tarde, por alguns momentos chegou a haver oito advogados na sala de 15 metros quadrados que por 580 dias serviu de cela ao petista.
Do lado de fora, com a militância formando uma aglomeração cada vez maior, a filha Lurian dançava junto ao portão ao som de Apesar de Você, canção de Chico Buarque entoada em coro pela multidão. Fotógrafo pessoal de Lula, Ricardo Stuckert chegou com uma bandeira branca com o rosto do petista e a frase "Lula é inocente", concebida para amoldurar a imagem oficial da soltura.
Lá dentro, Lula era só sorrisos. Às 16h21min, os documentos garantindo sua liberdade foram publicados no processo eletrônico da Justiça Federal — o despacho do juiz Danilo Pereira Junior, assinado às 16h15min26s, e o alvará de soltura número 700007758894, subscrito pelo mesmo magistrado 35 segundos depois.
Informado de que agora estava oficializada a permissão para sair, Lula não quis nem mesmo recolher os pertences. Deixou para trás livros, roupas, fotografias, uma televisão e a esteira onde se exercitava todos os dias. Nem mesmo o exame de corpo de delito o ex-presidente quis fazer.
Foi somente às 17h35min, quase uma hora depois, que o delegado regional executivo Sergio Eduardo Busato, que respondia interinamente pela Superintendência da PF no Paraná, ingressou na cela para recolher a assinatura de Lula no alvará e na certidão de dispensa do exame de lesões corporais. Pouco antes, Busato havia feito uma busca no sistema do Conselho Nacional de Justiça para verificar se havia algum mandado de prisão pendente contra o petista.
Lula foi então escoltado pelo chefe da custódia da PF, Jorge Chastalo, pelas escadas de incêndio da sede da PF, os mesmos degraus pelos quais ele chegou à cela em 7 de abril de 2018, quando desembarcou do helicóptero da corporação para começar a cumprir a pena pela condenação no triplex do Guarujá. Às 17h42min, no portão, um Lula às lágrimas abraçou a família e seguiu seu destino rumo ao palanque.