O discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em evento com apoiadores em São Bernardo do Campo (SP), indica que o principal pilar da oposição será a política econômica do governo de Jair Bolsonaro.
Em 45 minutos, fez uma série de críticas à política do ministro da Economia, Paulo Guedes — e ainda partiu para cima da figura pessoal do ministro.
Chamou Guedes de "demolidor de sonhos", "destruidor de empregos e de empresas públicas brasileiras" e pinçou do cenário internacional os protestos monumentais no Chile para reforçar que Guedes quer construir no Brasil o modelo que levou pobreza aos aposentados do país sul-americano.
Criticou a proposta de se trocar a carteira de trabalho azul pela verde e amarela, que, segundo ele, reduz direitos, e, referindo-se a Bolsonaro, questionou a reforma da Previdência feita por uma militar que se aposentou cedo.
Além dessa retórica, Lula explorou pontos do governo e da economia. Questionou o fato de o corte de juro da taxa Selic não chegar à população. Lula afirmou que a queda não chega ao cheque especial, ao consumidor e até mesmo ao crediário das Casas Bahia, um símbolo de compra da população de baixa renda.
Na semana em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou avanço na pobreza extrema, Lula retomou também o discurso social que sustentou suas falas desde os anos 1980 e fez isso contrapondo realidades.
Disse que quase metade da população está ganhando R$ 413 por mês e precisa de serviços e programas sociais, incluindo mais transporte, remédios, emprego.
E acusou o governo de tentar criar uma nova classe dirigente financiada pelos donos do dinheiro. Citou as referências populares de empresas fortes: Ambev, do empresário Jorge Paulo Lemann, os bancos Bradesco e Itaú e a XP, maior corretora do país.
Extraiu recados econômicos até de outras bandeiras do governo. Atacando o discurso recorrente de Bolsonaro de que é preciso combater o aumento da violência armando os cidadãos, Lula resgatou a proposta de que segurança social se constrói com emprego, educação e cultura para os mais jovens — a parcela da população que neste momento mais sofre com a lenta recuperação do emprego.
Também disse estar disposto a voltar a andar pelo país, "porque não é possível que a gente veja cada vez mais os ricos ficando mais ricos e os pobres mais pobres".