Tecendo críticas ao atual governo, desafiando o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e da Economia, Paulo Guedes, e exigindo resultados definitivos da investigação do caso da morte da vereadora carioca Marielle Franco, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou por 40 minutos – em alguns momentos usando palavrões — a centenas de apoiadores que o aguardavam em São Bernardo do Campo, na tarde deste sábado (9).
— Ele (Bolsonaro) foi eleito para governar para o povo brasileiro, não para os milicianos do Rio de Janeiro. Ele tem que explicar onde está o Queiroz! Ele tem que explicar como ele construiu um patrimônio com 17 casas. Eu quero que ele explique porque eles estão falando que não vão aumentar o salário mínimo pelos próximos dois anos — afirmou.
Lula seguiu no ataque ao presidente:
— Ele (Bolsonaro) não esteve com um príncipe, a ONU já afirmou: aquele príncipe mandou matar um jornalista. Matou, esquartejou o jornalista. Este é o príncipe que ele foi conversar. Não precisamos falar palavrão para o Bolsonaro, pois ele já é um palavrão.
Durante o discurso, Lula chamou Moro de canalha e acusou o procurador Deltan Dallagnol de montar uma "quadrilha" na força-tarefa da Lava-Jato.
— Quero repetir aqui hoje uma coisa que eu falei no ano passado: quando um ser humano tem clareza do que ele quer na vida, do que ele representa, e tem clareza que seus acusadores estão mentindo, toma a decisão. Tomei a decisão de ir à Polícia Federal porque eu preciso provar que o juiz Moro não era um juiz, era um canalha. Eu precisava provar que o Dallagnol não representa uma instituição pública. Ele montou uma quadrilha. Resolvi ficar bem pertinho e enfrentar as feras. Cá estou eu: livre como um passarinho. Deito todas as noites e durmo tranquilo. Duvido que o Moro durma com a consciência tranquila que eu durmo. Duvido que o Dallagnol durma com a consciência tranquila — provocou.
O ex-presidente ainda se referiu ao ministro da Economia como demolidor de sonhos:
— Duvido que o ministro demolidor de sonhos e destruidor de emprego, chamado Guedes, durma com a consciência tranquila.
Lula disse não querer vingança e que, aos 74 anos, está apaixonado. Ele prometeu casar com a namorada Rosângela da Silva, conhecida como Janja, assim que tiver condições. Ressaltou que, ao ser preso, usou os 580 dias como missão para se preparar espiritualmente:
— Hoje, sou um cara que não tem emprego. Nem televisão tenho no meu apartamento. Minha vida está toda bloqueada. Mas, tenham a certeza, estou com mais coragem de lutar do que antes. Lutar para que as mulheres possam levar os seus filhos ao supermercado e comprar o que eles querem comer. Lutar para que os trabalhadores tenham carteira assinada. Lutar para que o trabalhador tenha direito de ir ao cinema, de ter um carro, de ir a um restaurante e de no final de semana reunir a família, fazer um um churrasco e tomar uma cervejinha. E eu nem estou pedindo para todo mundo ser corintiano. Aos 74 anos de idade, eu não tenho direito de ter ódio no meu coração. Agora, com 74, tenho energia de 30 e tesão de 20 anos.
No discurso, Lula também fez ataques à imprensa. As críticas se direcionaram à Rede Globo, mas também mencionaram a TV Record e o SBT.
– Lá em cima, tá o helicóptero da Rede Globo de Televisão pra falar merda outra vez sobre o Lula e sobre nós – disse o ex-presidente. – Na cadeia, eu fui obrigado a ver televisão aberta. A TV do Silvio Santos tá uma vergonha. A Record tá uma vergonha. E a Globo continua a mesma vergonha. A Globo, até agora, não colocou uma matéria do Intercept, que tá denunciando a Lava-Jato. A única matéria que ela fez foi pra defender o Faustão, que foi dar aulas para o Moro – completou o ex-presidente.
Minutos após o fim da fala de Lula, a Rede Globo divulgou uma nota. Confira, abaixo, a íntegra.
"A Globo repudia os ataques do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A prova de isenção da emissora são a transmissão, na íntegra, pela GloboNews, dos discursos que o ex-presidente fez ontem (sexta-feira) e hoje (sábado), e as reportagens a respeito no Jornal Nacional. Também prova a sua isenção o fato de que é alvo de ataques de ambos os extremos do espectro político, hoje tão radicalizado. A Globo faz jornalismo sério de qualidade e continuará a fazer. Sem se intimidar e sem jamais perder a serenidade."