Um áudio vazado na quarta-feira (16) mostra o presidente Jair Bolsonaro pedindo a deputados do PSL apoio para derrubar o líder do partido na Câmara, Delegado Waldir (GO). Na gravação, divulgada pela revista Época, o presidente afirma que faltava apenas uma assinatura para efetivar a troca, criando uma espécie de “mandato tampão” até a nova eleição para o cargo.
— A maneira como está, que poder tem na mão atualmente o presidente, o líder aí? O poder de indicar pessoas, de arranjar cargos no partido, promessa para fundo eleitoral por ocasião das eleições, é isso que os caras têm. Mas você sabe que o humor desses caras de uma hora para a outra muda — afirmou Bolsonaro a um interlocutor desconhecido em trecho do áudio.
Dando sequência ao diálogo com o interlocutor, Bolsonaro diz que ligou para deputados insatisfeitos com a liderança da sigla na Câmara. O presidente também destaca ser contra o formato de lista e favorável à eleição direta, mas que no momento não tinha outra alternativa.
Conforme a reportagem, a gravação oculta foi realizada no Palácio do Planalto.
“Desonestidade”
Na saída do Palácio da Alvorada, nesta quinta-feira (17), o presidente disse que não vai comentar o assunto publicamente, destacando que “se alguém grampeou telefone, primeiro é uma desonestidade".
— Eu falei com meus parlamentares. Me gravaram? Deram uma de jornalista? Eu converso com deputados, eu não trato publicamente deste assunto — sublinhou.
O chefe do Executivo não respondeu se pedirá que seja investigado de que forma o áudio foi vazado.
O vazamento é um novo capítulo da crise instaurada dentro do PSL, que ganhou força nos últimos dias com Bolsonaro pedindo para um correligionário esquecer o partido e com ação da Polícia Federal contra o presidente da sigla, Luciano Bivar, que entrou no rol de inimigos do presidente.
Confusão na Câmara
Bolsonaristas querem substituir delegado Waldir por Eduardo Bolsonaro, filho do presidente. Segundo deputados, Bolsonaro atuou pessoalmente para influir no processo.
As versões desencontradas geraram uma confusão no protocolo da Câmara. A ala bolsonarista entregou uma lista com 27 assinaturas para tirar Waldir do comando da bancada. Uma contra-lista foi então apresentada com 32 deputados.
Como o PSL tem 53 parlamentares, a conta não fecha. O impasse foi instaurado. Como a lista para manter Waldir na liderança foi a última protocolada, é ela que vale por enquanto para a Câmara.
Eduardo já comentou uma eventual substituição.
— O meu compromisso aqui é ficar até dezembro, oportunidade em que teremos eleições para o ano que vem — afirmou em entrevista coletiva, cercado pelo núcleo duro dos bolsonaristas.
As assinaturas, porém, terão de ser checadas pela administração da Casa para conferir se são autênticas, e o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem de chancelar a medida para que ela entre em vigor.
Os deputados, de ambos os grupos, não mostraram o documento à imprensa.