A um ano das eleições municipais de 2020, as articulações visando a prefeitura de Porto Alegre apontam para um panorama diverso das últimas disputas. Enquanto a esquerda, quase sempre dividida, caminha para a montagem de uma frente na qual o PT está disposto a abrir mão de ter candidato pela primeira vez desde a fundação do partido, as forças de centro e de direita tendem a pulverizar suas candidaturas.
Há razões diversas compondo este horizonte. A principal é a mudança nas regras eleitorais que proibiram coligações na eleição proporcional. A medida impede a reprodução de uma anomalia que beneficiava os partidos pequenos, ao permitir que nomes sem expressão eleitoral conquistassem mandatos na carona dos puxadores de votos. Foi assim, por exemplo, que o palhaço Tiririca (PR) elegeu mais três deputados federais na eleição de 2010 ao conquistar 1,35 milhão de votos.
Com o veto às alianças, partidos que tradicionalmente não aspiram o Executivo estão sendo levados a apresentar candidaturas para fortalecer suas nominatas à Câmara de Vereadores. Outro fator a multiplicar o número de postulantes é a cláusula de barreira. Em 2018, 14 legendas não alcançaram o patamar mínimo de votos e acabaram perdendo tempo de rádio e TV e acesso às verbas bilionárias do fundo partidário. Dessa forma, Porto Alegre deve ter em torno de 10 postulantes ao Paço Municipal no próximo ano.
Um dos principais candidatos é o prefeito Nelson Marchezan (PSDB). Embora tenha dito que não disputaria a reeleição, Marchezan aprovou mudanças estruturais que permitem redução de gastos com o funcionalismo e incremento na arrecadação com o aumento do IPTU, turbinando suas pretensões. E se em 2016 o tucano só conseguiu viabilizar sua candidatura quando conquistou o apoio do PP, agora a dobradinha não se repetirá. Marchezan rompeu com o aliado e agora flerta com o PL e o PTB.
Os trabalhistas gostam da ideia e cogitam indicar o deputado estadual Elizandro Sabino para vice do tucano. Cresce no partido, porém, um movimento para reprisar a candidatura de Maurício Dziedricki, quarto colocado na eleição de 2016. Dziedricki tem sido pressionado sobretudo pelos candidatos a vereador, cuja bancada almeja aumentar de quatro para seis o número de cadeiras.
No PP, apartado de Marchezan, há dois pré-candidatos: o atual vice Gustavo Paim e o vereador Ricardo Gomes. O partido contratou uma pesquisa junto com MDB, PTB e DEM para perscrutar o sentimento dos eleitores e tenta construir uma chapa competitiva, mas admite ser complicado apresentar-se como oposição após partilhar o governo.
— É uma situação estranha. Teremos dificuldade, porque estivemos juntos por dois anos e meio — diz o presidente municipal, João Carlos Nedel.
Sentindo-se preterido no partido, Ricardo Gomes sonda outras legendas onde possa ser candidato. Por afinidade ideológica, ele cogita migrar para o DEM, mas a legenda deve formar aliança com o PSL — partido do presidente Jair Bolsonaro, que pretende ter candidatos em todas as capitais para reforçar a campanha à reeleição em 2022.
Em Porto Alegre, o deputado estadual tenente-coronel Zucco ambicionava a candidatura desde o início do ano, após ser o mais votado para a Assembleia Legislativa. Todavia, a desconfiança interna por sua proximidade com o vice-presidente Hamilton Mourão acabou levando o partido a tirá-lo da direção estadual e minando suas aspirações. Agora, o nome mais forte é o do secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico Ruy Irigaray, que pode ter o deputado Rodrigo Lorenzoni de vice.
No mesmo campo da nova direita, despontam ainda o Novo, cujo candidato deve ser escolhido em processo seletivo, e o Cidadania, com a deputada Any Ortiz. Tentando capturar o mesmo eleitorado, surge ainda o vereador Valter Nagelstein. Sem espaço no MDB, Nagelstein está acertado com o PSD e deve anunciar sua migração nos próximos meses. Caminho semelhante deve seguir a comandante Nádia, secretária municipal de Desenvolvimento Social e Esporte, em negociação com o PRB.
A saída do vereador diminui os atritos no partido, dividido entre as pré-candidaturas de Sebastião Melo e Cezar Schirmer. Derrotado no segundo turno em 2016, Melo se elegeu deputado estadual e era favorito dentro da sigla para concorrer de novo, mas agora enfrenta a disposição de Schirmer, cuja passagem pela Secretaria de Segurança no governo José Ivo Sartori animou uma ala da legenda. Mas antes da escolha os dirigentes precisam recuperar a imagem do diretório municipal, abalada após a prisão do então presidente André Carús por suspeita de extorquir assessores.
Nas hostes esquerdistas, o único partido com cenário mais definido é o PDT. Vice de Melo 2016, Juliana Brizola será a candidata dentro uma estratégia nacional para fortalecer o projeto presidencial de Ciro Gomes em 2022. O PSB tenta convencer Beto Albuquerque a participar da disputa, mas esbarra na resistência do ex-deputado.
A grande novidade deve ser a criação de uma frente de esquerda unindo PT, PCdoB e Psol. Sem disputar um segundo turno desde 2008 e diante da ausência de um candidato natural à prefeitura, o PT avança para apoiar uma chapa encabeçada por Manuela D'Ávila (PCdoB). Os aliados históricos agora contam com a simpatia do Psol, sigla tradicionalmente refratária ao PT.
— Sugerimos a realização de uma prévia conjunta dos três partidos para montagem da chapa, mas também pode ser uma solução dialogada. Só não aceitamos um prato feito com PT e PCdoB ocupando as duas vagas — condiciona a deputada Luciana Genro.
Pelo Podemos, o deputado estadual Rodrigo Maroni é o pré-candidato.
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