As eleições de 2018 marcaram a ascensão ao poder da chamada "nova direita", que reúne grupos políticos com interesses variados e um ponto de convergência: a repulsa à esquerda. Hoje, alas distintas desse grupo político — dos bolsonaristas alinhados ao presidente, aos lava-jatistas preocupados com a pauta anti-corrupção — duelam entre si. Alçados ao poder na esteira da eleição de Jair Bolsonaro, ao menos outros sete nomes surgem como expoentes do eleitorado de grupos alinhados à direita. Confira:
O atual líder do PSL na Câmara (PSL-GO) migrou para o partido no ano passado, ao lado de Bolsonaro – antes, havia sido filiado ao PSDB e ao PR. Para chegar ao posto-chave na legenda, levou vantagem sobre a inexperiência dos colegas recém-eleitos. Nos últimos dias, porém, o relacionamento amargou. Por causa da aproximação de Waldir com o presidente do PSL, Luciano Bivar, Bolsonaro patrocinou uma estratégia para destituí-lo, substituindo ele por Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) – não deu certo. Depois, Waldir foi gravado em um áudio durante uma reunião de deputados da legenda chamando o presidente de "vagabundo".
– Eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele. Não tem conversa. Eu implodo ele. Eu sou o cara mais fiel. Acabou, cara – desabafou Waldir, no áudio vazado para a imprensa.
O caçula dos três filhos políticos de Bolsonaro, chamado pelo presidente de 03, tem sido saudado como o "homem do futuro" pelos bolsonaristas. Mestre de cerimônias e organizador de um evento conservador no último final de semana, Eduardo (PSL-SP) foi chamado de "mitinho" ao discursar com desenvoltura para os apoiadores. O deputado federal presidiu o PSL em São Paulo até a última quinta-feira (17), quando foi destituído por causa da disputa interna da legenda, e foi o indicado do pai para a embaixada nos Estados Unidos.
O governador de São Paulo foi eleito pelo PSDB, mas se colou, durante a campanha, na imagem popular de Jair Bolsonaro. Nas ruas, chegou a usar uma camiseta verde e amarela com os dizeres #BolsoDoria. Em 2019, porém, a relação azedou. Bolsonaro partiu para o embate público ao denunciar que Doria "mamou" nos governos do PT em referência à compra de um jatinho pela empresa do governador com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Doria, por sua vez, tem se contraposto a Bolsonaro para tentar tornar viável uma candidatura à Presidência e se aproximado de ex-bolsonaristas, como Alexandre Frota (PSDB-SP). Na última terça-feira (15), discutiu com apoiadores do presidente e os chamou de "vagabundos".
A deputada federal (PSL-SP) mais votada do país na eleição passada foi escolhida líder do governo no Congresso. Na última quinta-feira (17), no entanto, o presidente decidiu tirá-la do posto sem sequer comunicá-la. Foi uma retaliação à assinatura de Joice na lista de apoio à manutenção do Delegado Waldir (PSL-GO) como líder do PSL na Câmara. No dia anterior, o campo pró-Bolsonaro da legenda havia tentado destituir o deputado e substituí-lo por Eduardo Bolsonaro. Joice é pré-candidata à prefeitura de São Paulo, o que a fez cultivar atritos com o 03. Ele não apoia a empreitada.
O deputado federal (DEM-SP) emergiu dos protestos anti-PT de 2015, depois de fundar o Movimento Brasil Livre (MBL). Depois de se popularizar entre jovens por causa de um depoimento crítico ao Bolsa Família, passou a ser um dos articuladores a nível nacional das manifestações contra Dilma Rousseff. Kataguiri se elegeu para a Câmara no ano passado e só aderiu à candidatura de Bolsonaro no segundo turno, ao declarar que seria um "voto útil". Nesse ano, abriu dissidência ao presidente e passou a criticá-lo, de olho em uma ala de direita independente do bolsonarismo. Em março, publicou no Twitter sua opinião sobre um tuíte obsceno de Bolsonaro durante o Carnaval: "bola fora".
Major Olímpio
O policial militar da reserva, que acumulava passagens pela Assembleia Legislativa de São Paulo e pela Câmara, se filiou ao PSL em março do ano passado e foi eleito senador. É um antigo aliado de Bolsonaro e foi escolhido líder do PSL no Senado. Neste mês, porém, a relação encrespou. Olímpio criticou os filhos do presidente ao dizer que eles têm "mania de príncipes" e defender a saída de Flávio Bolsonaro da sigla. Carlos Bolsonaro foi ao Twitter. Escreveu que o senador era um "bobo da corte" que "diz absurdos". E ainda o chamou de "canalha".
O deputado federal (Novo-RS) chegou à Câmara depois de uma mandato na Assembleia do Rio Grande do Sul. Em uma das suas passagens mais conhecidas, atacou aos berros a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), em um megafone, a chamando de defensora de bandidos. Hoje, é líder da bancada do Novo na Câmara e tem dado constantes entrevistas para a imprensa nacional. Tornou-se um líder informal do governo Bolsonaro, participando de encontros privados da família e articulando a reforma da Previdência – proximidade que não impediu que ele fosse alvo de ataques de bolsonaristas ao apontar um erro de cálculo no orçamento para 2020 que acrescentou R$ 671 milhões a mais ao fundo eleitoral.
O governador do Rio de Janeiro (PSC) assumiu o Palácio da Guanabara como um ex-juiz outsider conectado ao discurso de Bolsonaro – é ele quem aparece em uma imagem ao lado de deputados do PSL que quebraram uma placa de rua com o nome de Marielle Franco (PSOL), vereadora assassinada no ano passado. Witzel prometeu endurecer o combate ao crime organizado nas favelas. Tem defendido propostas controversas para refrear a crise na segurança pública, como o "abate" de criminosos armados e o fechamento de acessos às comunidades. O governador entrou em duelo com o bolsonarismo depois de fazer críticas ao presidente e anunciar que quer concorrer ao Planalto. Flávio Bolsonaro ordenou que os deputados do PSL deixassem a base de Witzel no Rio, mas o grupo se dividiu. Com a possível saída do presidente do PSL, a legenda passou a acenar para Witzel.
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