Há um mês, em um CTG de Brasília, Jair Bolsonaro era aguardado no evento que receberia centenas de pessoas para o lançamento de uma frente parlamentar em defesa da cultura gaúcha. Horas antes, a equipe de segurança do Palácio do Planalto vistoriou o local e fez exigências, como acesso em porta exclusiva. Porém, algo preocupou os agentes: os convidados portariam facas como parte da pilcha? A resposta foi que o artefato integra a indumentária. O presidente acabou não participando da festa.
Apesar de o protocolo ser usual em eventos presidenciais, o cuidado com a segurança de Bolsonaro recebe maior atenção. Há um ano, ele foi ferido por uma facada durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG). No domingo (8), será submetido a nova cirurgia, ainda em decorrência do atentado.
Responsável pela proteção presidencial, o gabinete de Segurança Institucional (GSI) não divulga dados ou práticas realizadas. Ainda assim, quem acompanha o dia a dia de Brasília, percebe uma permanente tensão em agendas oficiais.
— É o presidente mais antissistema, contra o politicamente correto, que a gente já teve. E há animosidade. É preciso redobrar o cuidado — relata um militar próximo ao Planalto.
Um acessório que passou a fazer parte da rotina de Bolsonaro, usado em diversos eventos externos, é o colete à prova de balas. Guarda-costas que o acompanham em compromissos portam pastas que, em casos extremos, também bloqueariam eventuais disparos.
Ainda assim, os “improvisos” de Bolsonaro são uma preocupação constante. É comum alterações repentinas na agenda ou idas a locais que não receberam vistoria prévia. Em junho, na Capital Federal, ele foi até um supermercado no bairro onde mora o filho mais novo, Jair Renan, para comprar xampu. Em agosto, andou de moto, pilotou uma moto náutica e foi até uma feira.
Na saída do Palácio do Alvorada, um novo esquema foi criado depois que ele passou a conceder entrevistas no local, além de cumprimentar eleitores. Para chegar à portaria, é preciso passar por duas barreiras e detector de metais, apresentar documentos, descartar garrafas de água e retirar bonés. O caminho é guarnecido por blocos de concreto e materiais que podem perfurar pneus.
Em recente visita ao Rio Grande do Sul, para a liberação de trecho duplicado da BR-116, a aproximação do público foi limitada por gradis, a cerca de 30 metros do palco do evento. O presidente pediu para que as estruturas fossem aproximadas.
— Ele pediu para a segurança liberar as pessoas. Contrariou o esquema de segurança. E, depois, ainda foi ao encontro de todos os que estavam no evento — conta o deputado Afonso Hamm (PP-RS), que viajou com a comitiva presidencial.
Além de cumprimentar apoiadores, Bolsonaro ignorou a chuva que caía na região e posou para selfies.
Antes da posse
Logo após a eleição, marcada pela polarização política e atos de violência, o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general Sérgio Etchegoyen, sugeriu que a estratégia de proteção fosse revista.
— A gente tinha dados para reforçar que era preciso ampliar e replanejar. Deixamos um novo plano para a segurança — diz Etchegoyen.
Segundo ele, a segurança é voltada à instituição representada pelo presidente, que pode ser ampliada sempre que algum tipo de risco seja detectado.
Atualmente, o responsável pelo GSI é o general Augusto Heleno. Em julho, a atuação da escolta oficial, de responsabilidade do Exército e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), foi criticada por Carlos Bolsonaro, filho do presidente, e por assessores da ala ideológica do Planalto. Causou mal estar em oficiais das Forças Armadas a defesa da transferência da atividade para a Polícia Federal.
O impasse tomou corpo depois que um militar foi preso na Espanha com 39 quilos de cocaína em um avião da comitiva presidencial que seguia ao Japão. O presidente jogou panos quentes na disputa e defendeu seu ministro:
— Estou muito bem com o GSI, do general Heleno, me sinto muito seguro e tranquilo. Não existe segurança 100% infalível. Qualquer presidente, de vez em quando, sofre algum tipo de atentado, mas confio 100% no general Heleno à frente do GSI — disse Bolsonaro à época.