Indicado para ocupar o cargo de embaixador em Washington, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) é o ponto de contato entre o pai, o presidente Jair Bolsonaro, e governantes de tendência nacionalistas na Europa e nos Estados Unidos. Próximo do escritor Olavo de Carvalho, o parlamentar exerce muitas vezes o papel de diplomata informal: esteve sentado com Bolsonaro no Salão Oval na visita a Donald Trump, lugar de honra normalmente reservado ao ministro das Relações Exteriores, fez uma transmissão pela internet com o vice-primeiro-ministro da Itália, Matteo Salvini, e visitou a Polônia.
A admiração pelo regime polonês não é de agora. Em 23 de dezembro de 2017, o deputado escreveu no Twitter: “A Polônia tem se tornado uma ilha de segurança e esperança no coração da Europa. #exemplo”.
Em 28 de março de 2019, voltou a tuitar: “A Polônia tem um governo conservador, controla suas fronteiras e não é por acaso que o país não vivencia atentados terroristas. Hoje, eu e @filgmartins (o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Filipe Martins) pudemos aprender um pouco mais sobre os bons exemplos da Polônia conversando com o Min. Casa Civil polonês”.
O líder do partido governista Lei e Justiça, Jaroslaw Kaczynski, elogiado por Eduardo, já acusou imigrantes de ser em uma ameaça “à alma do país” e conduz uma cruzada contra gays. No mesmo mês da visita de Eduardo, o político afirmou durante convenção do partido:
— Tudo se resume, como sabemos, à sexualização de crianças desde a tenra infância. Precisamos lutar contra isso. Precisamos defender a família polonesa. Precisamos defendê-la furiosamente porque é uma ameaça à civilização, não apenas na Polônia, mas em toda a Europa, em toda a civilização baseada no cristianismo.
— Acho que a Polônia será uma região livre de LGBT — concordou Elzbieta Kruk, que concorreu ao parlamento europeu.
Armas
Em outra escala da viagem, na Itália, Eduardo se encontrou com o vice-primeiro-ministro Matteo Salvini, da Liga, de extrema-direita. O político entregou ao brasileiro cópia da chamada Lei da Legítima Defesa, proposta que permite a italianos com arma legal que atirem para matar em assaltantes que invadam residências e estabelecimentos comerciais. A ideia era de que o modelo integrasse o pacote anticrime proposto pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.
— Queremos uma Europa forte, que dialogue com o Brasil, com os Estados Unidos, com Israel, e que a esquerda se distancie do poder — afirmou Salvini à ocasião.
Eduardo e Martins são discípulos de Olavo de Carvalho, ideólogo brasileiro das ideias de Steve Bannon. Outro ponto de contato é Ernesto Araújo, que esteve na Itália, na Hungria e na Polônia no primeiro semestre. O chanceler quer aproveitar o alinhamento com essas nações para buscar investimentos em infraestrutura e aumentar exportações brasileiras de produtos da indústria de defesa, como aeronaves da Embraer e armas. O próprio presidente Bolsonaro já anunciou sua intenção de visitar os três países até o fim do ano.
Organização
The Movement, segundo palavras do próprio Bannon, é “uma rede de partidos e políticos que pregam ideais de direita radical, populistas e nacionalistas”. O grupo planeja uma sede na Itália de Savini. É dentro do Itamaraty que esse alinhamento ideológico é mais perceptível. Um exemplo é o convite feito pelo ministério à escritora Charlotte Iserbyt para palestrar no evento Política Educacional Globalista, da Fundação Alexandre Gusmão, no dia 26 — ela não participará por ter sofrido um acidente. Autora americana de The deliberate dumbing down of America (A idiotização proposital da América) e ex-integrante do governo do republicano Ronald Reagan (1981-1989), Iserbyt alega que o sistema de ensino dos EUA trabalha para eliminar a influência dos pais sobre a educação das crianças, de maneira a moldá-las como um membro do proletariado, a serviço da construção de uma sociedade socialista. A autora frequentemente é recomendada por Olavo.
A relação com Filipinas e Turquia, na avaliação de pesquisadores, não vem ao encontro dos interesses do movimento de direita. O presidente Rodrigo Duterte tem discurso de tolerância zero com a criminalidade, muito parecido com o de Bolsonaro, mas não há contatos diretos. Também são comuns a perseguição a comunidades LGBT+ e o sufocamento econômico da imprensa profissional, que praticamente já não existe no país.
— É difícil alguém justificar positivamente o que está acontecendo nas Filipinas. É um procedimento difícil de ser defensável em democracia. No caso de (Recep Tayyip) Erdogan, a Turquia está em um processo autocrático muito mais intenso do que o Brasil – critica Matias Spektor, professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas.