Diálogos atribuídos ao procurador Deltan Dallagnol apontam que o coordenador da força-tarefa da Lava-Jato teria incentivado colegas em Brasília e em Curitiba a investigar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli. As supostas mensagens foram obtidas pelo site The Intercept Brasil e publicadas em parceria com o jornal Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (1º).
Dallagnol teria buscado informações sobre as finanças pessoais do atual presidente do STF e da esposa dele, além de evidências que os ligassem a empreiteiras envolvidas com a corrupção na Petrobras.
"Caros, a OAS touxe a questão do apto do Toffoli?", diz mensagem atribuída a Dallagnol, em 13 de julho de 2016, aos procuradores que negociavam com a empresa acordo de colaboração. "Que eu saiba não", respondeu o promotor Sérgio Bruno Cabral Fernandes, de Brasília. "Temos que ver como abordar esse assunto. Com cautela", escreveu Dallagnol.
De acordo com reportagem, o procurador também recorreu à Receita Federal para levantar informações sobre o escritório de advocacia de Roberta Rangel, mulher de Toffoli.
O texto destaca que decisões do ministro no STF tinham contrariado interesses da força-tarefa na época, como no caso do voto para manutenção das investigações sobre corrupção na Eletronuclear longe de Curitiba e da soltura do ex-ministro petista Paulo Bernardo seis dias após a prisão. Na ocasião, Toffoli afirmou que não havia elementos no processo que justificassem a manutenção da prisão preventiva.
"A respeito do Toffoli, peçam pesquisa para a Spea (Secretaria de Pesquisa e Análise da Procuradoria-Geral da República) de pagamentos da OAS para o escritório da esposa do rapaz q terão mais alguns assuntos para a (revista) veja", teria escrito o procurador Orlando Martello no Telegram.
Anteriormente, a revista Veja havia publicado matéria sobre uma reforma na casa de Toffoli, apontando a delação do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro como fonte das informações. Até então, nenhum relato por escrito sobre o assunto havia sido apresentado pelos procuradores. Tal vazamento de informações ocasionou, em meio à cobrança de ministros do STF, o rompimento de negociações de delação premiada da Procuradoria-Geral da República (PGR) com Léo Pinheiro.
Na época, o ministro Gilmar Mendes apontou os procuradores da Lava-Jato como responsáveis pelo vazamento. Conforme a Folha, Dallagnol também teria sugerido a procura de informações referentes a Guiomar Mendes, esposa de Gilmar.
"Tem uma conversa de que haveria recebimentos cruzados pelas esposas do Toffoli e Gilmar", escreveu Deltan ao procurador Orlando Martello. "Tem mta especulação. Temos a prova disso na nossa base? Vc teve contato com isso?", questionou.
Contraponto
Sem fazer comentários específicos sobre os conteúdos das mensagens obtidas, a força-tarefa, que não reconhece a autenticidade do material, disse que é seu dever encaminhar à Procuradoria-Geral da República (PGR) informações sobre autoridades com direito a foro especial no Supremo Tribunal Federal sempre que as recebe, e que isso tem sido feito de forma legal. De acordo com a publicação, os ministros Toffoli e Gilmar Mendes não quiseram se manifestar sobre as mensagens, assim como a PGR.