Após receber sugestão do então juiz federal Sergio Moro, em agosto de 2017, membros da força-tarefa da Lava-Jato teriam se mobilizado para expor informações sigilosas sobre corrupção na Venezuela, segundo mensagens privadas trocadas pelos procuradores na época. As informações são da Folha de S.Paulo. Moro e Lava-Jato não reconhecem autenticidade dos diálogos.
Enviados por fonte anônima ao The Intercept Brasil e analisados pela Folha, os diálogos indicam que o principal objetivo da iniciativa era dar uma resposta política ao endurecimento do regime imposto pelo ditador Nicolás Maduro, mesmo que a ação não tivesse efeitos jurídicos.
Ainda de acordo com o jornal, as mensagens mostram que a Procuradoria-Geral da República e a força-tarefa da Polícia Federal dedicaram meses de trabalho ao assunto e chegaram a se comunicar com procuradores da Venezuela perseguidos por Maduro. Também teriam vasculhado contas usadas pela Odebrecht para subornar autoridades do regime.
O assunto teria começado a ser debatido em agosto de 2017, depois que Moro escreveu a Deltan Dallagnol no aplicativo Telegram: "Talvez seja o caso de tornar pública a delação da Odebrecht sobre propinas na Venezuela. Isso está aqui ou na PGR?". Um ano antes, quando começou a colaborar com a Lava-Jato, a Odebrecht reconheceu ter pago propina para fazer negócios em 11 países além do Brasil, incluindo a Venezuela, mas as informações foram mantidas em sigilo pelo Supremo Tribunal Federal.
A Folha transcreveu trechos da conversa:
Dallagnol: "Haverá críticas e um preço, mas vale pagar para expor e contribuir com os venezuelanos."
Moro: "Tinha pensado inicialmente em tornar público. Acusação daí vcs tem que estudar viabilidade."
Dallagnol: "Não dá para tornar público simplesmente porque violaria acordo, mas dá pra enviar informação espontânea (à Venezuela) e isso torna provável que em algum lugar no caminho alguém possa tornar público. Paralelamente, vamos avaliar se cabe acusação."
Além do sigilo imposto às informações fornecidas pela Odebrecht, membros da força-tarefa tinham dúvidas sobre a viabilidade jurídica de uma ação que envolvesse autoridades estrangeiras e a instância do Judiciário em que deveria ser tratados. Também se mostravam temerosos com a possibilidade de ações brasileiras pudessem levar o país vizinho à "convulsão social", gerando mais mortes, em razão da guerra civil no local.
Dallagnol teria opinado: "Não vejo como uma questão de efetividade, mas simbólica. O propósito de priorizar (a ação) seria contribuir com a luta de um povo contra a injustiça, revelando fatos e mostrando que se não há responsabilização lá é porque lá há repressão.
Os procuradores encontraram dificuldades para levar a ideia adiante e só conseguiram dar passos mais decididos, sendo que um dos obstáculos era a ausência de interlocutores alinhados na Venezuela, segundo a Folha.