A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados recebeu, nesta terça-feira (2), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, falou novamente sobre as mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil e, posteriormente, pelo jornal Folha de S. Paulo.
Assim como na audiência no Senado, Moro duvidou da autenticidade das mensagens — sem negá-las totalmente, mas sem reconhecer que elas sejam verdadeiras —, rechaçou acusações de parcialidade na condução dos casos da Lava-Jato e reclamou do "sensacionalismo" do site.
— É uma questão político-partidária. Querem construir uma narrativa político-partidária e fazem um carnaval em cima disso. E infelizmente alguns caíram. Alguns veículos de imprensa, algumas autoridades. O sensacionalismo com o que foi divulgado, mensagens secretas, gera toda a curiosidade em cima das pessoas. Quando se reflete o que foi divulgado, é um balão vazio — afirmou Moro.
A audiência na comissão teve vários episódios tumultuados. Em alguns momentos, Moro reclamou que os questionamentos eram "muito baixos", especialmente quando foram realizadas perguntas sobre a ação da sua esposa, Rosângela Wolff Moro, como advogada.
— Essas ilações são muito baixas. Estão usando ela para me atacar — declarou.
Em um outro episódio, os deputados Zeca Dirceu (PT-PR) e Eder Mauro (PSD-PA) quase brigaram. O petista se levantou para ir ao banheiro e, quando voltou, o parlamentar do PSD estava em seu lugar. Mauro se recusava a sair, e aconteceu uma pequena discussão. O presidente da Comissão, Fernando Francischini (PSL-PR), reclamou da situação.
— Se eu tiver que me preocupar até com quem vai no banheiro, vai ficar impossível isso aqui — afirmou.
Não foi a única vez em que Francischini se queixou da atitude dos deputados. Em outros momentos, ele chegou a comparar a sessão com uma famosa série de TV.
— Fica todo mundo olhando para trás quando o ministro está falando. Parece a Escolinha do Professor Raimundo isso aqui! — disse.
Alguns minutos depois, em outra discussão entre deputados, ele ainda brincou:
— E o salário, ó! — afirmou, citando uma famosa frase de Chico Anysio na série.
Pedido de auditoria
Moro declarou que as mensagens eram sensacionalistas, que pediu para o site The Intercept Brasil submetê-las a uma auditoria independente, afirmou que não havia qualquer irregularidade e, em todos os momentos, criticou o "vazamento criminoso" e afirmou que as mensagens podem ter sido adulteradas.
Em um dos momentos, quando questionado sobre uma mensagem que teria trocado com Deltan Dallagnol com a frase "In Fux we Trust":
— Eu posso ter dito, mas eu não lembro. Isso foi em 2016! Foi uma paródia com a inscrição que está (na nota) do dólar americano. A coisa mais inocente possível.
Em outro momento, ele ironizou deputados que criticavam a sua postura no julgamento de Lula:
— Quero saber quem vai defender inocentes como Sergio Cabral, Eduardo Cunha, Renato Duque, todos estão condenados — declarou.
Investigação das finanças de Glenn Greenwald
A audiência estava repleta de deputados da oposição, principalmente do PT, PSOL e PCdoB. Em defesa de Moro, parlamentares não só do PSL, mas também de partidos aliados, como Novo, PRB, Podemos e MDB.
Um dos temas da audiência foi uma nota publicada pelo site O Antagonista. A matéria afirma que a Polícia Federal (PF) está investigando as transações financeiras do jornalista Glenn Greenwald, editor do The Intercept Brasil e nascido nos Estados Unidos, no âmbito da apuração sobre os vazamentos de mensagens. Moro foi questionado dezenas de vezes por deputados, que afirmaram ser um ataque à liberdade de imprensa.
— As investigações correm com a Polícia Federal. Meu papel é resguardar a autonomia e dar condições para a PF. Não acompanho pari passu (nos mesmos passos) as investigações. Espero, até porque foi uma das vítimas, que os fatos sejam esclarecidos o mais rápido possível. Até que eles sejam esclarecidos, todas as possibilidades se encontram à disposição. O que eu tinha que fazer, como vítima, eu fiz: reportei os fatos, entreguei meu celular — declarou o ministro.
Moro disse, também, que tratava com isonomia todas as partes nos processos.
— Eu recebia polícia, recebia Ministério Público, recebia advogados frequentemente. O WhatsApp é só uma forma mais ágil de comunicação — declarou.
Moro reiterou várias vezes que não via qualquer irregularidade nos seus atos como juiz dos casos da Lava-Jato.
— Tenho muita consciência de que sempre agi com correção e com base na lei — declarou.