Principal liderança da bancada ruralista no Congresso, o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) foi o fiador da indicação de Maira Souza para a chefia do Parque Nacional da Lagoa do Peixe. O parlamentar defende a escolha da agrônoma, sustentando que ela pode ser a articuladora de uma conciliação entre ambientalistas e produtores rurais na região. Para Alceu, Maira pode atender uma reivindicação antiga dos ruralistas, que é ter voz ativa na construção de um novo plano de manejo para o parque.
— A menina tem totais condições de fazer mediação com aquele público e com o ICMBio e levar para o parque o que ele precisa: um plano de manejo em que as pessoas do entorno se sintam contempladas. Temos de ter uma proposta conciliatória, dizer por que não pode mexer nisso ou naquilo.
Confira a entrevista:
Foi o senhor quem indicou a Maira Souza para a chefia do Parque Nacional da Lagoa do Peixe?
Não existe isso. Quem nomeia é o ministro. Ele queria o perfil de uma pessoa que conhecesse a região, pediu alguns nomes. E as lideranças me passaram o nome dela, pois precisavam de alguém que fizesse uma harmonização. Desde que o parque foi estabelecido os produtores são tratados como acidente de percurso, mas estavam lá há 200 anos. Daí chegou alguém lá, fez uma reunião, definiu que era um parque, não pagou nada para ninguém, não discutiu plano de manejo e começou a dizer que não pode isso, não pode aquilo. As pessoas são humilhadas.
O que suscitou polêmica foi a juventude e a falta da experiência da Maira?
Então tá: ela é desqualificada porque tem 25 anos, porque fez agronomia e porque é produtora rural? Desde quando ser produtor rural virou adjetivo pejorativo de alguém? Se eu tivesse um pessoa formada em Biologia, com 23 anos, produzido no meio das ONGs ambientalistas e indicada pelo partido, tinha discussão? Não teria absolutamente nada, ninguém discutiria idade nem coisa nenhuma. Não aceitamos esse preconceito porque ela fez agronomia e não biologia. A guria vai fazer gestão. Qualquer coisa técnica relacionada à preservação ambiental do parque é decisão dos técnicos concursados do ICMBio.
É possível conciliar preservação e produção?
Claro. Mas um plano de manejo precisa socializar o processo, ser discutido com os produtores. Ou então vai lá compra e paga a terra de todo mundo. Quando a lagoa enche, o próprio gado tem de ser retirado. E em algumas áreas, é possível ter agricultura. Mas o que define isso: um processo feito não por biólogos e ambientalistas, mas feito também por agrônomos. Aquele povo adora a lagoa. Se fizer um plano de manejo cuidadoso com os produtores, todos eles serão aliados.
O parque
- Criado em 1986, está localizado em uma extensa planície costeira arenosa, situada entre a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico.
- A paisagem é composta por mata de restinga, banhados, campos de dunas, lagoas de água doce e salobra, além de praias e uma área marinha.
- Apesar da denominação, Lagoa do Peixe é, na verdade, uma laguna, por causa da comunicação com o mar. É relativamente rasa, com 60 centímetros de profundidade em média. Tem 35 quilômetros de comprimento e dois quilômetros de largura.
- É um berçário para o desenvolvimento de espécies marinhas, como camarão-rosa, tainha e linguado. Além disso, atrai variadas espécies de aves. Já foram catalogadas 275 espécies, das quais 35 são migratórias.