O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira (19) que o ministro Sergio Moro é "um patrimônio nacional" e que não viu "nada de anormal até agora" no conteúdo das trocas de mensagens relevadas pelo site The Intercept Brasil.
Em audiência no Senado, o ex-juiz da Lava-Jato afirmou que não tem apego ao cargo e que, se for constatada alguma irregularidade, poderia sair do posto. Questionado sobre a fala de Moro, Bolsonaro disse:
— Eu também não tenho apego ao meu cargo — afirmou. — Qualquer ministro é livre para fazer o que bem entender. O Sergio Moro é um patrimônio nacional, não é do presidente da República — completou.
Nas conversas publicadas pelo site Intercept, Moro sugere ao Ministério Público Federal trocar a ordem de fases da Lava-Jato, cobra a realização de novas operações, dá conselhos e pistas, antecipa ao menos uma decisão judicial e propõe aos procuradores uma ação contra o que chamou de "showzinho" da defesa do ex-presidente Lula.
Bolsonaro também provocou o jornalista Glenn Greenwald, do Intercept, e seu marido, o deputado David Miranda (PSOL-RJ).
— Esse pessoal daquele casal lá, um deles esteve detido na Inglaterra sob suspeita de espionagem — disse.
Miranda foi detido em 2013 após Greenwald revelar estratégia de espionagem cibernética do governo dos Estados Unidos (EUA). Em 2016, a corte britânica considerou a detenção incompatível com o direito europeu.
As falas de Bolsonaro foram feitas a jornalistas após cerimônia na Aeronáutica nesta quarta, em que ele disse que conta com os militares para preservar "a nossa liberdade e democracia, tão ameaçados há pouco".
O presidente usou seus dois minutos de discurso num evento de formação de sargentos em Guaratinguetá (a 178 km da capital) para fazer elogios aos militares.
— De paletó e gravata, na Presidência da República, juntamente com vocês, meus irmãos de farda, fazemos um Brasil melhor para todos — afirmou.
— Quis Deus colocar em nossas mãos a Presidência da República e nós honraremos essa missão — acrescentou Bolsonaro. — O exemplo de vocês em todo o Brasil a partir de agora é que fará com que nós realmente mudemos de direção — disse.
— O Brasil tem algo muito importante a se preservar: a nossa liberdade e a nossa democracia, tão ameaçados há pouco. Quis que isso mudasse e eu conto com vocês para que juntos façamos um Brasil melhor para todos. — completou.
Desde que iniciou o governo, Bolsonaro tem colocado militares em postos-chave do governo, mas o setor teve conflitos com a ala ideológica, formada por seguidores do escritor Olavo de Carvalho.