Desde domingo (9), quando o site The Intercept Brasil tornou pública uma série de matérias sobre diálogos entre procuradores da Lava-Jato e o ex-juiz Sergio Moro, conteúdos falsos circulam nas redes sociais. Veja abaixo dois casos que passaram pelo crivo das agências de fact-checking Lupa e AFP.
Falso diálogo sobre "sentença já combinada"
Um suposto diálogo em que Moro e o coordenador da força-tarefa da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, falam em "evitar a candidatura (de Fernando Haddad)" e que "toda sentença (de Lula) já está combinada" é falso. Essa checagem foi feita pela Agência Lupa.
À Lupa, o The Intercept Brasil informou que essa troca de mensagens não aparece nos diálogos entregues por uma fonte anônima ao site. "Esta imagem não foi produzida pela equipe do Intercept Brasil e nós não somos responsáveis pela divulgação dela", afirmou o The Intercept Brasil.
Nos diálogos divulgados na série de reportagens, Moro sugeriu que a força-tarefa invertesse a ordem de duas fases da Lava-Jato e aconselhou Dallagnol sobre a investigação. Porém, em nenhum momento afirmou que a sentença que condenou Lula estava combinada, nem que seria preciso evitar a candidatura de Haddad.
Falsa acusação de David Miranda
Uma suposta acusação de que David Miranda (PSOL), suplente de Jean Wyllys (PSOL) na Câmara dos Deputados, responde a processo por terrorismo no Reino Unido também é falsa. Miranda é marido do jornalista Glenn Greenwald, um dos autores das reportagens do The Intercept Brasil que revelaram os diálogos da Lava-Jato.
Essa checagem foi feita pela AFP. Segundo a apuração da agência, a maioria das postagens menciona um artigo da Revista Exame, de novembro de 2013, sobre uma detenção temporária de Miranda no aeroporto de Heathrow, em Londres.
Suspeito de carregar arquivos confidenciais fornecidos por Edward Snowden, Miranda foi mantido recluso pela Polícia Metropolitana de Londres durante nove horas com base em uma lei anti-terrorismo. Depois, acabou liberado e retornou para o Brasil.
Em 2016, uma corte no Reino Unido decidiu que a lei que permitiu que Miranda — que também é jornalista — fosse enquadrado como terrorista fere a Convenção Europeia dos Direitos Humanos. A corte também rejeitou a definição de terrorismo usada pelos advogados do governo no processo.
Por isso, não existe nenhuma acusação formal de terrorismo contra Miranda no Reino Unido, uma vez que a Justiça concluiu que a sua atividade não pode ser considerada um ato terrorista e que a sua detenção feriu a liberdade de imprensa.