A crise instalada entre o escritor Olavo de Carvalho e a cúpula militar do governo — vocalizada por Eduardo Villas-Bôas, comandante do Exército de 2015 até o começo deste ano — monopolizou o plenário do Senado no fim da tarde e início da noite desta terça-feira (7). As críticas a Olavo vieram de diversos partidos, inclusive da sigla do presidente Jair Bolsonaro, o PSL.
— Eu, senador Major Olímpio, do PSL, repudiando que façam associação desse senhor ao PSL, quero expressar minha total solidariedade ao general Villas Bôas ou a qualquer pessoa que possa ter sido ofendida — disse o líder do PSL no Senado.
— Peço a todos que pensem exatamente no presidente Jair Bolsonaro apoiado pelo grande amigo Villas Bôas, e não no presidente Bolsonaro tantas vezes atrapalhado por um amigo que usa da insensatez até no sentido, talvez, de ajudar, mas que causa celeumas dessa ordem que nos impedem até de iniciarmos discussões — afirmou Olímpio.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse ter ido ao Palácio do Planalto prestar solidariedade a Villas Bôas e criticou os "ataques agressivos deste senhor, que vive em outro país", referindo-se a Olavo.
Villas Bôas hoje é assessor do também general da reserva Augusto Heleno no Gabinete de Segurança Institucional.
— É um cidadão até há pouco tempo desconhecido, que não tem nenhuma importância intelectual em nenhuma academia, em nenhum centro cultural, nunca teve um voto, não tem participação, não decidiu nada, mora há anos fora do país e tem uma estranhíssima relevância neste momento, a ponto de nós aqui no Senado hoje, em vez de estarmos discutindo a questão da Previdência, a questão do desemprego, a questão do saneamento, tantas questões importantíssimas, a reforma fiscal, estamos discutindo sobre essa figura — disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).
No Senado, as críticas se estenderam ao ministro da Educação, Abraham Weintraub, sabatinado nesta terça em uma comissão da Casa. Weintraub é um admirador de Olavo de Carvalho.
— O ministro é psicótico, ele baixa o olho o tempo todo, ele não consegue encarar ninguém. É uma vergonha para o Brasil ter um ministro desqualificado como esse ministro que está aí hoje nomeado pelo Presidente da República. E desmereceu o Senado Federal, os governadores, os senadores, os deputados — disse o senador Otto Alencar (PSD-BA).
Crise persistente
Nos últimos dias, o agravamento da crise entre os militares e a chamada ala ideológica do governo Jair Bolsonaro (PSL) levou a uma reação do Alto Comando do Exército, que considera o presidente omisso na disputa e quer estabelecer um limite ao que vê como desrespeito institucional.
O recado foi dado pelo mais respeitado general da reserva, uma vez que oficiais da ativa não poderiam se manifestar. Villas Bôas usou as redes sociais para chamar Olavo de Carvalho de "Trótski de direita", ao criticar o patrono da ala ideológica associando-o ao líder comunista soviético Leon Trótski.
Na manhã desta terça, Olavo disse em uma rede social que "os generais, para voltar a merecer o respeito popular, só têm de fazer o seguinte: arrepender-se, pedir desculpas e passar a obedecer o presidente sem tentar mudar o curso dos planos dele. É simples".
Disse mais: "Há coisas que nunca esperei ver, mas estou vendo. A pior delas foi altos oficiais militares, acossados por afirmações minhas que não conseguem contestar, irem buscar proteção escondendo-se por trás de um doente preso a uma cadeira de rodas. Nem o Lula seria capaz de tamanha baixeza".
Ao falar de "doente preso a uma cadeira de rodas", Olavo refere-se a Villas Bôas, vítima de uma doença degenerativa grave.