Lideranças do PT compartilharam um vídeo no Twitter nesta segunda-feira (4) que mostra uma confusão em uma delegacia de polícia no interior de São Paulo. O vídeo mostra o presidente do diretório municipal do PT em Atibaia, Geovani Doratiotto, sendo detido e tendo o braço quebrado pelos policiais. De acordo com a rádio CBN, os policiais foram afastados nesta segunda pela corregedoria.
O vídeo mostra um homem com uma camisa escrito "Lula Livre", que seria Geovani, discutindo com os policiais. O policial diz: "vou te algemar de novo." E Geovani pergunta: "o que você vai fazer além de me algemar?" Depois, os PMs imobilizam Doratiotto, viram o braço dele e o colocam em uma cela. Nesse momento, ele diz: "quebrou meu braço, caramba!"
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, compartilhou o vídeo e disse que Geovani teve o braço quebrado pela PM após ser agredido por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Ela cobrou explicações ao governo de São Paulo e medidas duras de responsabilização. "Até onde essa violência persistirá?", questionou no Twitter.
No Facebook, a namorada de Geovani, Pham Dal Bello, disse que os dois estavam participando, com outras pessoas, de uma ação contra o assédio no carnaval. Geovani vestia uma camiseta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por volta das 16h, após a panfletagem contra o assédio, o advogado se afastou dos amigos para ir ao banheiro acompanhado pela namorada. Na saída, ele foi abordado pelos militantes.
"Quando viramos para ir embora, um deles deu um murro no olho do Geovani e os outros pularam em cima dele, da maneira mais covarde, segurando o cabelo dele pressionando o rosto contra o chão, chutes na cabeça e nas costelas, dois seguravam e outros batiam", publicou ela.
Geovani conta ter sido retirado do local por agentes da guarda municipal e orientado pela prefeitura a prestar queixa na delegacia -após atendimento na Santa Casa. Ele diz que, na chegada ao hospital, voltou a ser cercado e confrontado pelo mesmo grupo que o atacara.
— Levei um soco. Um PM me arrastou para dentro da recepção (do hospital).
Geovani foi, então, imobilizado com duas algemas e levado, em camburão, para a delegacia. Ao chegar ao DP, ele foi levado para a parte interna da delegacia, enquanto, segundo seu relato, os agressores ficaram do lado de fora.
Identificando-se como advogado, Geovani questionou o uso das algemas. Segundo ele, um policial respondeu que aquilo ainda era pouco.
Ao ouvir a resposta, a namorada de Geovani começou a gravar as cenas. Diante de policiais e funcionários da delegacia, o advogado, que erguia os braços, foi imobilizado por três homens, sendo dois PMs fardados. Enquanto um o imobilizava, outro torceu o seu braço, provocando um estalo alto — que pode ser ouvido no vídeo.
O advogado foi encarcerado e conta que, enquanto queixava-se de dores no braço, ouvia dos policiais ameaças de que o outro também seria quebrado. O advogado foi conduzido por policiais civis ao hospital. Mas, no início da madrugada desta segunda-feira (4), os PMs que o agrediram foram ao hospital para levá-lo de volta à delegacia.
Investigação
Segundo Geovani, os PMs exigiram que os médicos apresentassem seus registros profissionais e reproduziram, em WhatsApp, imagens das radiografias. Por volta das 2h30 desta segunda, o advogado foi liberado mediante pagamento de fiança de R$ 1.000.
Além da Corregedoria da PM, a assessoria jurídica do PT acionou o Ministério Público. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) também foi procurada.
— As imagens falam por si — diz o advogado Cleiton Coutinho, um dos autores da representação.
O Ouvidor da Polícia, Benedito Mariano, disse que solicitou ao corregedor-geral da PM, coronel Marcelino Fernandes, que ele envie a investigação do caso para São Paulo.
Ainda segundo Mariano, a vítima foi convidada a depor na Ouvidoria na próxima quarta (6) e os PM envolvidos na ocorrência "foram afastados da atividade de rua até a conclusão das investigações"
— Além da agressão, vamos analisar a motivação da agressão. Se foi por motivo político é grave. Policiais não podem se envolver em questões políticas na atividade de rua. Vamos ouvir a vítima na quarta-feira — disse o ouvidor à Folha.
O que diz a Polícia Militar
Em nota, a Polícia Militar informou que os procedimentos adotados na ocorrência em Atibaia serão apurados "através de inquérito Policial Militar."
Ainda segundo a PM, a imobilização de Doratioto no interior da delegacia ocorreu durante a apresentação de uma ocorrência em que o delegado de plantão solicitou ajuda dos PMs para condução do advogado à carceragem, "devido as suas ações de desacato, desobediência e resistência".
Ainda segunda a nota da PM, foi " necessária a aplicação da técnica de defesa pessoal para imobilizar (chave tática) e conduzir o indivíduo até a referida cela".
A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que a PM vai apurar a conduta dos agentes e diz que o advogado foi levado à delegacia após agredir pessoas, na noite de domingo (3), em uma praça de Atibaia.