O primeiro encontro do presidente Jair Bolsonaro com Donald Trump, programado para terça-feira (19), deve servir para estreitar a relação entre Brasil e Estados Unidos, além de colocar em pauta assuntos como Venezuela, turismo, a base de Alcântara e questões diplomáticas. É o que afirmou chanceler Ernesto Araújo, ministros das Relações Exteriores, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade nesta sexta-feira (15).
— Vai ser uma pauta para a gente começar a reconstruir a parceria com os Estados Unidos, que é uma parceria natural. Durante muito tempo se desperdiçou oportunidades com os EUA por uma simples má vontade de sucessivos governos. Inclusive, aproveitando as semelhanças de visões de mundo entre os presidentes Trump e Bolsonaro. Eles têm uma visão de nação forte e soberana, uma nação que trabalha pelo seu povo — destaca Araújo.
Um dos temas mais sensíveis é a possibilidade de essa aproximação com os norte-americanos afugentar parcerias com a China. De acordo com o ministro, não existe intenção de fechar negócios com uma nação em detrimento da outra.
— É bom que haja essa competição entre diferentes fontes de investimento. Do ponto de vista de estratégia, não só é possível como é desejável — salienta o ministro.
Isenção do visto
O item sobre a isenção de visto que fará com cidadãos dos EUA possam entrar no Brasil com facilidade também é assunto que deve ser abordado. Controverso, já que, por ora, funciona como via de mão única - somente norte-americanos seriam beneficiados -, o Itamaraty ainda não pretende propor algum tipo de contrapartida.
— Inicialmente, queremos fazer esse caminho de lá para cá em benefício do nosso mercado de turismo. Existem cálculos aí de que isso pode gerar, já inicialmente, receita adicional de vários bilhões de reais. Os EUA são um dos maiores emissores de turismo no mundo — explica o chanceler, acrescentando que não é intenção condicionar o afrouxamento dos trâmites de entrada no Brasil à aprovação de matéria semelhante pelos Estados Unidos.
Base de Alcântara
Outro tópico a ser tratado é a base de Alcântara e o acordo de salvaguarda tecnológica que permite o uso de tecnologia norte-americana em lançamento de satélites.
— É uma das principais coisas que se pretende trazer de lá. Isso permitirá a gente usar, em seu potencial pleno, a base de Alcântara para lançamento de satélites e outros lançamentos para fins comerciais. Sem acordo não é possível usar nenhuma tecnologia americana, e é praticamente impossível fazer lançamentos sem essa tecnologia — afirma Araújo, complementando que a base militar brasileira tem localização privilegiada para lançamentos.
Venezuela
A situação da Venezuela é outro tema das conversas que devem ser feitas entre Bolsonaro e Trump. De acordo com o chanceler, o Brasil deve continuar agindo apenas diplomaticamente, apoiando o presidente autoproclamado Juan Guaidó. Intervenção armada não seria uma alternativa.
— Isso não está, absolutamente, no nosso plano. No momento, temos esperança de transição democrática e certa frustração porque essa mudança está mais lento do que deveria. Brasil e EUA acham que o processo com Guaidó é irreversível.
Transferência da embaixada do Brasil em Israel
Além da agenda para a viagem aos Estados Unidos, Araújo também falou que a troca de 15 embaixadores brasileiros é algo normal em início de governo, e que o remanejo tem como critério adequar o perfil dos profissionais de acordo com as demandas políticas do governo. A transferência da embaixada do Brasil em Israel da capital Tel Aviv para Jerusalém também foi discutida na entrevista.
— Uma maior presença em Israel, independentemente da localização da embaixada, é algo fundamental. Inclusive para a agricultura, pois nossa pauta com Israel é tecnologia agrícola e outras coisas em que (eles) estão avançados. Estamos conversando com países de maioria muçulmana sobre essa questão de Israel. Qualquer coisa que fizermos será com muito cuidado para que não haja repercussão negativa — garantiu Araújo.
Ao ser questionado sobre o afastamento do embaixador Paulo Roberto de Almeida — exonerado do cargo de presidente do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri) por críticas ao chanceler —, Araújo justificou que não há uma caça às bruxas.
— Ele vinha republicando artigos que criticavam nossa política externa. Minha decisão foi quando ele publicou um post extremamente ofensivo a mim e à pessoa do presidente, com termos muito desrespeitosos — pontua Araújo.
Já sobre a influência de Olavo de Carvalho na política externa, o ministro disse que não há ingerência do professor que vive atualmente nos Estados Unidos.
— Sou leitor e acompanho o pensamento dele. Tem profundidade, antecipa coisas que se materializam. A influência é apenas na visão de mundo, mas não em políticas específicas ou ações.