O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) confirmou, nesta quinta-feira (1º), que pretende transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém. O anúncio do capitão da reserva foi publicado em sua conta oficial no Twitter e reforçado em entrevista coletiva no Rio de Janeiro.
Se confirmar a mudança, Bolsonaro vai seguir os passos do governo de Donald Trump, que promoveu a realocação da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém em maio deste ano. O ato causou confrontos violentos na Faixa de Gaza, que deixaram cerca de 60 mortos.
A decisão de Trump também foi seguida pela Guatemala. O Paraguai alinhou seu posicionamento com o do governo norte-americano, mas voltou atrás.
Reconhecimento
Caso confirme a mudança na localização da embaixada em Israel, o governo de Bolsonaro estará reconhecendo Jerusalém como a capital de Israel, criando atrito com a Palestina e com outros países árabes. Os palestinos pretendem transformar Jerusalém Oriental na capital de seu futuro Estado independente. Na coletiva desta quinta, Bolsonaro disse não ver clima pesado na medida.
— Nossa segurança em primeiro lugar. Essa questão da embaixada, se o Brasil mudar, eu não vejo um clima pesado. Não é uma questão de vida ou morte. Temos todo o respeito com Israel e com o povo árabe — disse.
A Organização das Nações Unidas (ONU) e a maioria da comunidade internacional não reconhecem Jerusalém como capital de Israel. Após Trump anunciar a mudança da localização da embaixada, a ONU defendeu que o status de Jerusalém deve ser decidido por uma "negociação direta" entre israelenses e palestinos, reiterando que sempre foi "contra toda medida unilateral".
No entendimento do embaixador aposentado Luiz Augusto de Castro Neves, vice-presidente emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), caso o gesto de Bolsonaro se confirme, demonstrará uma "guinada exótica" na política internacional brasileira.
— O principal impacto seria o afastamento do Brasil de suas tradições diplomáticas, que foram sempre de apoiar a resolução da ONU. Seria um gesto exótico, porque não somos um ator importante no Oriente Médio — afirmou o embaixador aposentado.
Neves entende que a possível medida de Bolsonaro traria mais vantagens para o governo de Israel, que teria mais uma nação reconhecendo Jerusalém como capital do país, do que para o Brasil. O vice-presidente afirmou que a transferência de embaixada geraria manifestações de países árabes na ONU e causaria desgaste político na relação do Brasil com essas nações, mas não implicaria sanções comerciais. O mercado árabe é um dos principais importadores de carne de frango do Brasil.
Atrito com a Palestina
Durante a campanha, Bolsonaro afirmou a intenção de retirar a embaixada palestina de Brasília. Na época, o então candidato à Presidência afirmou que a representação diplomática não pode existir na capital federal porque "a Palestina não é um país". Não foram anunciadas novas medidas sobre esse tema desde o último domingo.