Em reunião com ministros nesta segunda-feira (25), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse que é hora de construir uma relação harmônica com o Legislativo, sobretudo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O final de semana foi marcado por trocas de declarações ríspidas entre Bolsonaro e Maia em torno da tramitação da reforma da Previdência.
Participaram do encontro no Planalto os ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo), Paulo Guedes (Economia) e Augusto Heleno (GSI, gabinete de Segurança Institucional).
Segundo relatos feitos à reportagem, Bolsonaro afirmou que não criticou Maia e que não tem interesse que a relação entre ambos não seja pacífica.
Maia tem criticado fortemente a postura do presidente e aliados com relação à tramitação da reforma, colocando-se fora do centro da articulação para a aprovação do texto. Em meio ao bate-boca público, Bolsonaro disse que a reforma é assunto do Congresso.
O presidente também defendeu uma atuação mais direta do governo na negociação da reforma previdenciária com a Câmara, tarefa a ser capitaneada por Onyx.
Assessores do Palácio do Planalto têm defendido uma conversa entre Bolsonaro e Maia, no início desta semana, para, nas palavras de um assessor palaciano, "discutir a relação". O presidente, porém, ainda tem resistido.
Enquanto isso não ocorre, auxiliares do presidente atuam como bombeiros. O chefe da equipe econômica tem conversado com Maia e Bolsonaro. Também atuam nas conversas lideranças do Congresso e o vice-presidente, general Hamilton Mourão.
Assessores avaliam que é urgente que Bolsonaro dê clareza ao tipo de relação que ele quer ter com o Congresso e de que forma pretende contar com a participação dos partidos.
Para um auxiliar do presidente, não há problema de falta de apoio para a agenda defendida pelo governo. O que atrapalha na relação entre os poderes, na visão dele, é a ausência de clareza do papel que os partidos políticos terão.
Interlocutores defendem que Bolsonaro ofereça alguma forma de participação das legendas, que não precise passar pela distribuição de cargos e emendas parlamentares. Defendem que o presidente chame pessoalmente os presidentes dos partidos para uma conversa.
Avaliam que esse gesto seria mais produtivo para aprovação de projetos do que os recados que o presidente manda pela imprensa de que não conquistará base de apoio por meio de cargos e dinheiro.
À reportagem, Mourão afirmou que "o diálogo é sempre bom" e disse que haverá uma conversa para pacificar os ânimos entre os dois poderes.
— Três aspectos são importantes nessa relação: clareza de ideias, determinação na busca do objetivo e paciência no diálogo — respondeu Mourão ao ser questionado sobre qual o caminho para a solução da crise.
Apesar de hoje a tensão estar instalada na relação entre a Câmara e o Planalto, senadores relatam que o clima também não é bom na Casa e já começam a operar para evitar que o desgaste chegue ao Senado.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o líder do governo na Casa, Fernando Bezerra (MDB-PE), passaram o fim de semana em contato com Bolsonaro por telefone.
No Congresso, o clima é de indefinição sobre qual o tamanho da base que o governo tem nas duas Casas legislativas, o que pode comprometer a votação de projetos importantes, como a reforma da Previdência.