Davi Alcolumbre (DEM-AP) foi eleito neste sábado (2) presidente do Senado. Próximo ao ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, o senador da Região Norte deixou para trás Renan Calheiros (MDB-AL), que desistiu da candidatura. Mas sua vitória não foi o único fato que chamou atenção. Durante os trabalhos, iniciados na sexta-feira (1º), houve discussões, "roubo" de pasta, senador mudando de postura de uma votação para a outra e parlamentar recorrendo às redes sociais para definir voto. Confira os casos a seguir:
Pasta "roubada"
Nem a pasta que Davi Alcolumbre carregava na sexta-feira (1º), com documentos que ditariam as regras da eleição, ficou imune ao clima tenso entre os parlamentares. Depois de bate-boca no plenário, a maioria dos senadores decidiu que a escolha para a presidência da Casa ocorreria por meio de voto aberto. Alcolumbre, que comandava a sessão, anunciou a medida — que seria revertida neste sábado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. Parte dos senadores insatisfeitos questionou a legitimidade de o parlamentar estar no posto, já que ele seria candidato na disputa.
Foi neste momento em que Kátia Abreu (PDT-TO), defensora do voto fechado, atraiu os holofotes. Junto à Mesa da Casa, arrancou a pasta que estava com Alcolumbre.
— O que é isso, você ficou maluco? — questionou a pedetista. — Entregue a cadeira ao mais velho. Isso vai parar no Supremo, a sessão vai ser cancelada — complementou.
Adversário de Alcolumbre, Renan Calheiros, que desistiria da disputa neste sábado, apoiou a atitude da colega:
— Tira ele daí, Kátia! — suplicou Renan.
Outros senadores resolveram avaliar a confusão instalada:
— Isso é pior do que briga de lavadeira. Em 68 anos, nunca vi tanta desmoralização — disse Jayme Campos (DEM-AL).
Ex-apresentador de programas televisivos sobre futebol, Jorge Kajuru (PSB-GO), estreante no Senado, comparou a situação com a confusão envolvendo dois clubes argentinos na final da Libertadores de 2018:
— Está parecendo Boca e River.
— Parece que estamos assistindo a uma briga de diretório estudantil — acrescentou outro envergonhado, Omar Aziz (PSD-AM).
Quase briga
Outro momento conturbado na sexta-feira foi uma discussão entre Renan Calheiros e Tasso Jereissati (PSDB-CE). Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos senadores que apartaram o bate-boca, relatou que o emedebista passou por Tasso no corredor do plenário e disparou:
— O responsável por isso é você, coronel, cangaceiro.
Em seguida, segundo Randolfe, o diálogo ficou ainda mais agressivo. Tasso, sentado, teria rebatido:
— Você vai para a cadeia.
— Seu merda, venha para a porrada — teria dito Renan.
A pasta, outra vez
Depois do atrito, o pedido de desculpas. Neste sábado, Kátia Abreu presenteou Davi Alcolumbre com flores. "Não entreguei a pasta, mas entreguei flores hoje ao senador Davi Alcolumbre", escreveu a senadora em seu perfil no Instagram, adicionando a hashtag "paz".
Randolfe Rodrigues criticou a retirada do material de Alcolumbre por Kátia:
— Triste. Um feito deprimente para o Senado da República ter um documento da Mesa furtado. É o fundo do poço — pontuou.
Na rede social
Jorge Karuju surpreendeu seus pares neste sábado ao declarar que resolveu usar o Facebook para mudar sua escolha e apoiar Davi Alcolumbre na disputa pela presidência do Senado.
— Gostaria de deixar registrado nos anais do Senado que eu, Jorge Kajuru, inaugurei hoje uma nova forma de votar, (sic) através de enquete em tempo real no Facebook. Meu voto seria do senador Reguffe (sem partido-DF), pelo coração, mas meus eleitores e os brasileiros pediram por 77% que votasse em Davi Alcolumbre — relatou.
Mudança de lado
Ao contrário de outros senadores que abriram o voto para a presidência do Senado, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) alegou a condição de filho do presidente Jair Bolsonaro para não revelar seu escolhido ao cargo durante a primeira votação.
"Sou a favor do voto aberto, mas nessa ocasião específica, por ser filho do chefe de outro Poder, optei por não abrir meu voto, para evitar especulações com intuito de prejudicar o governo", publicou no Twitter.
A decisão foi criticada no Twitter e, durante a segunda votação, ele declarou apoio a Davi Alcolumbre. Ao justificar a mudança de postura, Flávio apontou suspeita de fraude no processo de escolha — com 81 senadores, a primeira votação foi anulada após registrar 82 cédulas. "Após essa fraude na urna e para que não pairem dúvidas, declaro meu meu voto em Davi Alcolumbre para presidência do Senado", publicou o senador.
Divergências internas
Na parte final da sessão deste sábado, Renan Calheiros envolveu-se em outra disputa. Assim que o parlamentar retirou sua candidatura à presidência do Senado, sua correligionária, senadora Simone Tebet (MDB-MS), comemorou. Ela foi preterida dentro do partido, que indicou Renan para a disputa ao cargo. Desde o início das articulações para o pleito, Simone se opôs ao senador.
— Não teve macho, mas teve mulher para derrubar esse coronel. Preferia voltar para a minha cidade e ser prefeita a ter esse MDB aqui — disse ao abraçar Regina Perondi, esposa do ex-deputado federal Darcísio Perondi (MDB-RS).