O depoimento de um primo do deputado federal Paulo Pimenta (PT) joga luz sobre uma apuração que se arrasta há 10 anos, na qual o parlamentar é investigado por suposto estelionato. À RBS TV, o veterinário Antônio Mário Pimenta, o Maíco, disse que o deputado seria responsável por esquema que teria lesado arrozeiros de São Borja em R$ 12 milhões.
Produtores da cidade alegam ter sofrido prejuízo após venderem sua produção para uma arrozeira. Entregaram os cereais, mas não teriam recebido pagamento.
— Sou de uma leva de uns seis ou mais que perdemos de 7 mil a 10 mil sacos. Dois ou três levaram prejuízo de 90 mil sacos, outro de 150 mil — diz um dos produtores, que preferiu não se identificar.
Ao cobrarem a dívida de Maíco, que era administrador da arrozeira, os produtores ouviram que o verdadeiro dono da empresa seria o primo deputado.
Pimenta é investigado por estelionato no Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2012. A Procuradoria-Geral da República (PGR) afirma existir "indícios que apontam para o deputado como o proprietário da arrozeira, ou, ao menos, como quem mantenha com a citada empresa algum grau de vinculação que o faça também responsável pelas fraudes noticiadas".
À RBS TV, Maíco admitiu ligações do primo com a empresa. Disse ter assumido a arrozeira ao ser convencido pelo deputado de que seria um bom negócio — isso porque, segundo ele, a empresa teria realizado uma negociação de arroz avaliada em R$ 8 milhões.
— Era um negócio fantástico, um negócio de 200 mil sacos de arroz, pegando uma empresa capitalizada — diz Maíco.
No entanto, o negócio supostamente lucrativo teria virado frustração. Segundo Maíco, a carga de R$ 8 milhões de arroz não existiria. E mais: ao checar a autenticidade de laudos usados para atestar a quantidade e a qualidade do cereal, teria descoberto que os papéis seriam falsos. Alertada por Maíco, a companhia certificadora denunciou o caso à Polícia Federal em 2009.
— Vimos que os documentos não eram legítimos e que tinha sido furtado documento interno da empresa, com falsificação dos resultados que até não condizem com as especificações técnicas do produto — diz o dono da certificadora.
O inquérito ainda não esclareceu o que estaria por trás da suposta negociação do arroz, se o dinheiro de fato existiu e qual sua origem. Após ser entrevistado, Maíco prestou depoimento à PF e o relato deve ser encaminhado ao STF, para ser anexado ao inquérito no qual o parlamentar já teve o sigilo bancário quebrado.
Apesar das dificuldades do negócio, Maíco diz que, algumas vezes, a arrozeira chegou a dar lucro. E que fez transferências bancárias e depósitos em dinheiro na conta de um posto de combustíveis que pertence ao deputado, na zona norte da Capital. Avaliado em R$ 485 mil, o posto aparece na relação de bens de Pimenta, declarada à Justiça Eleitoral. Em 2014, fez doação de R$ 15 mil para a campanha do petista.
— Ele (deputado) pediu para fazer remessas para um posto em Porto Alegre. Umas três ou quatro remessas, talvez mais, faz muito tempo, no valor de R$ 30 mil, R$ 40 mil, na época — diz Maíco, ressaltando que as operações seria feitas de forma fracionada.
O veterinário diz ainda que não teve intenção de enganar os produtores, mas admite que houve má gestão na arrozeira. E que as operações se transformaram numa espécie de "pirâmide", na qual novas transações eram feitas para cobrir rombos anteriores.
Maíco diz que foi orientado pelo primo a deixar São Borja após o suposto prejuízo, mas decidiu permanecer. Mudou-se apenas há poucos meses, para cuidar das terras da família em São Francisco de Assis.
— Do meu bolso, já perdi mais de R$ 300 mil, R$ 400 mil, entre (ações) trabalhistas e coisas que foram pagas. Paguei (algumas dívidas) vendendo gado, sou produtor, minha origem é dentro de uma cooperativa, eu sou veterinário de formação, sei onde é que arde — relata Maíco.
O que diz Paulo Pimenta (PT-RS)
O deputado nega as acusações:
– Esse assunto não me diz respeito, não existe nada no processo que me vincule a essas denúncias, essa investigação tem mais de 10 anos. Temos certeza da nossa absoluta inocência, da manipulação que está sendo feita envolvendo o meu nome e o de outras pessoas. Tenho o posto de gasolina há muitos anos e não existe qualquer vínculo entre esses assuntos. Tentaram nos envolver neste episódio e todas essas pessoas foram condenadas pela Justiça. É denúncia motivada por causa dos nossos posicionamentos políticos. São pessoas que organizaram ato de violência contra nós em São Borja. Há exploração política. E ninguém mais do que eu quer que esse processo seja concluído o mais rapidamente possível.