Pouco depois de o PSL decidir apoiar a recondução de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse que o governo não vai interferir na disputa no Congresso. A eleição para o comando da Câmara e do Senado está marcada para 1.º de fevereiro.
— Desde que venceu a eleição, o presidente Jair Bolsonaro tem dito que não deve interferir na disputa do Congresso. Não haverá intervenção — afirmou Onyx nesta quarta-feira (2).
Com 52 deputados, o PSL — partido de Bolsonaro — é a segunda maior bancada da Câmara, só perdendo para o PT, que elegeu 56 parlamentares. Até agora, a sigla do presidente estava dividida sobre a sucessão no Legislativo e a maioria não queria apoiar a recondução de Maia, sob o argumento de que ele representava a velha política.
Apesar da declaração de Onyx de que o Palácio do Planalto não vai interferir na eleição no Congresso, nos bastidores integrantes do primeiro escalão mostram dúvidas sobre como será o alinhamento de Maia ao novo governo.
— Ninguém vai defender mais a agenda econômica de Bolsonaro do que eu. Eu acredito e vou defendê-la onde estiver — disse o presidente da Câmara ao jornal O Estado de S. Paulo, recentemente.
Bolsonaro foi aconselhado a não ficar contra Maia, para não sofrer reveses no Congresso.
— Vamos continuar dialogando com todos os partidos — insistiu Onyx, que nesta quarta chegou a pregar um pacto político em torno de propostas para o Brasil, como a reforma da Previdência.
No Senado, o quadro é considerado pior para o Planalto. Lá, o governo não quer avalizar a candidatura de Renan Calheiros (MDB-AL) por considerar que ele é muito próximo ao PT. Homem da confiança de Bolsonaro, o senador eleito Major Olímpio (PSL-SP) avalia agora se entra ou não na briga pelo comando daquela Casa.
Oposição
Pouco depois de o PSL anunciar apoio à reeleição de Rodrigo Maia (DEM) para a presidência da Câmara, o líder do PT na Casa, Paulo Pimenta (PT-RS), disse que a prioridade do partido hoje é construir um bloco com os cinco partidos de esquerda, PT, PSB, PDT, PCdoB e PSOL.
— Nossa prioridade é tentar construir um bloco do campo democrático e popular com o PSB, PDT, PCdoB e PSOL para um movimento conjunto em cima de uma agenda programática. Esse nosso movimento não se altera em função da postura do PSL porque tem objetivos maiores — disse Pimenta.
Três destes partidos (PSB, PDT e PCdoB) articulam um bloco com o objetivo de se diferenciar e isolar o PT na oposição. Embora Pimenta diga que a iniciativa de tentar ampliar o bloco não tenha relação com o apoio do PSL a Maia, parlamentares do partido admitem que a iniciativa é uma reação petista à articulação do PSL.
Para evitar o isolamento, o PT fala em fazer oposição programática e compartilhar o protagonismo do bloco.
— Acredito que eles (PSB, PDT e PCdoB) têm a intenção de atuar de maneira articulada dentro da casa. A gente respeita. Estes partidos juntos representam quase 150 votos (na verdade, 136) e podem ser decisivos para qualquer coisa. Cabe aos partidos discutir as estratégias, Não queremos que o PT seja o protagonista único deste movimento — disse ele.
O presidente do PDT, Carlos Lupi, disse que o partido vai reavaliar a situação e deve tomar uma decisão até o dia 12.
— Estamos tendendo a apoiar o Rodrigo mas agora é um novo momento. Ele passava uma imagem de independência e agora parece mais atrelado ao governo — disse Lupi.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, colocou em dúvida a participação do partido no bloco de apoio a Maia.
— Ainda estamos examinando essa questão, mas não é seguro que possamos integrar esse bloco — afirmou.
Líderes e dirigentes avaliam que a aliança de Maia com o PSL altera todo o quadro na disputa e a divisão pelos principais cargos da Casa.
O anúncio jogou água em especial sobre os planos do PT, hoje dono da maior bancada da Câmara. O partido, em tese, esperava conseguir o controle de três comissões. Agora, o entendimento é de que o endosso do PSL a Maia praticamente inviabiliza a nomeação de um petista para presidir comissões historicamente alinhadas à agenda partidária. É o caso da Comissão de Direitos Humanos, da Comissão de Educação ou ainda de Seguridade Social, todas elas consideradas estratégicas também para o partido do presidente eleito.