O nível de dificuldade para que Jair Bolsonaro execute sua agenda de reformas no Congresso Nacional será conhecido em 1º de fevereiro. A data marcará a posse dos parlamentares eleitos em outubro e, em especial, a escolha dos novos presidentes da Câmara e do Senado. Um líder alinhado ao Planalto poderá facilitar a vida do governo em votações importantes. Caso contrário, os obstáculos poderão se acumular frente a pautas polêmicas.
Se o eleito para uma das Casas não estiver alinhado, o Executivo terá que negociar, até mesmo, para que seus projetos sejam incluídos na pauta. O desafio será avançar nas articulações, mantendo o discurso de limar o "toma lá dá cá" da política, onde impera a troca de cargos por apoio.
Apesar do barulho feito por parlamentares que defendem votações abertas para definição dos presidentes, as escolhas irão ocorrer com voto secreto. A determinação, avalizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), favorece a busca de apoio dos candidatos em integrantes de siglas rivais, sem o risco de retaliação por infidelidade partidária.
Na Câmara, essa situação poderá ser benéfica ao governo. O PSL, partido do presidente, irá apoiar a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que busca o terceiro mandato no comando. Ele angariou o apoio formal de, pelo menos, 12 siglas que, juntas, somam 283 cadeiras. Para ser eleito em primeiro turno, é preciso alcançar 257 votos.
Para atrair os bolsonaristas, o parlamentar se comprometeu em defender a agenda de reformas do novo governo, que terá a da Previdência como prioridade, além da entrega do comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) ao PSL. Pelo colegiado, passam todos os projetos da Câmara antes de chegar ao plenário. A legenda ainda ficaria com a Comissão de Finanças e Tributação (CFT) e com a 2ª Vice-Presidência da Câmara, também considerados cargos-chave.
— Eu acho que a gente, dando essa sustentação ao governo federal, vamos viabilizar as reformas que o país exige. Não estamos com o Rodrigo Maia por estar, foi a convergência das ideias dele — justificou o presidente do PSL, deputado eleito Luciano Bivar (PE), após selar a aliança.
Visto por seus pares como conciliador, recebe críticas entre governistas devido a canais de diálogo que mantém com a esquerda. Por outro lado, o acordo costurado implodiu pontes com partidos como o PSB, primeiro a declarar que não apoiaria Maia devido à proximidade com o PSL, abrindo espaço para a construção de blocos de oposição.
Os socialistas, que defendem o nome de João Henrique Caldas (PSB-AL), sonham com uma frente de centro-esquerda. Mas, a adesão do PDT à reeleição do atual presidente, anunciada no último final de semana, enfraqueceu as articulações para a criação do grupo.
Não está descartada a aproximação do PSB com o bloco formado por PP, que tenta viabilizar os nomes de Arthur Lira (AL) e Ricardo Barros (PR), MDB, que tem Alceu Moreira (RS) e Fábio Ramalho (MG) como potenciais candidatos, e, até mesmo, o PT, que não lançou nenhum nome. Junto a PTB e PCdoB, que poderiam integrar a frente, o grupo alcançaria 178 parlamentares e deverá lançar diversos candidatos como estratégia para forçar um segundo turno contra o atual presidente.
— Esta é uma eleição própria para surpresas. A própria renovação do Parlamento é um aviso que isso pode acontecer — projeta um integrante do bloco.
A pluralidade do grupo, que poderá se aproximar em um eventual segundo turno contra Maia, poderá abrir espaços para negociações com o Planalto, caso saia vencedor da disputa, mas a expectativa é de maior dificuldade para os interlocutores de Bolsonaro, que teriam menor espaço na Mesa Diretora e nas comissões da Câmara.
O PSOL anunciou o nome de Marcelo Freixo (RJ). Capitão Augusto (PR-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP) correm por fora.
Aliados de Maia admitem que a votação secreta poderá fazer com que ele perca votos de aliados, mas acreditam que a conta será positiva, com a atração de desertores da oposição.
No Senado, Calheiros vibra com voto secreto
Se o voto secreto poderá auxiliar o candidato apoiado pelo partido do presidente a chegar à Presidência da Câmara, no Senado o cenário é oposto. Visto como um integrante da velha política por governistas, Renan Calheiros (MDB-AL) é o favorito para chegar ao quarto mandato no comando da Casa, já que seus apoiadores ficarão isentos de retaliações se contrariarem seus partidos.
Apesar do favoritismo, ele evita falar como candidato, sustentando que só confirmará sua participação às vésperas da disputa.
— É o MDB quem vai escolher. Somos a maior bancada e temos que estimular a possibilidade de todos concorrerem. Até o dia 31 não posso falar nada — despista.
Aliados de Bolsonaro veem Calheiros, que apoiou Fernando Haddad (PT) na disputa presidencial, como um obstáculo à pauta econômica do governo. A resposta foi a criação de uma estratégia “anti-Renan”. O PSL lançou o nome do senador eleito Major Olímpio (SP) para o cargo. No entanto, enquanto a sigla fez a segunda maior bancada da Câmara, com expectativa de se tornar a primeira atraindo parlamentares de legendas pequenas, no Senado a realidade é outra: conquistou apenas quatro cadeiras.
Outros nomes contrários ao emedebista, e próximos ao Planalto, também se articulam. Davi Alcolumbre (DEM-AP) é um dos mais lembrados. No entanto, o fato de ser do mesmo partido de Rodrigo Maia, favorito para presidir a Câmara, poderá enfraquecer sua candidatura.
De volta ao Senado após 20 anos, Espiridião Amin (PP-SC) é visto como um político experiente, mas estaria com a articulação em busca de apoio em ritmo lento, segundo assessores que acompanham a disputa. Alvaro Dias (Pode-PR) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) demonstram disposição para concorrer, mas podem desistir antes do pleito.
— A gente vai acabar se unindo em algum momento. O Renan tem esse ranço de representar a continuidade. O povo não quer mais isso — comentou um dos principais interlocutores do PP na Casa.
Apesar de repetir que não está participando das negociações para a escolha dos presidentes das duas Casas, Jair Bolsonaro acompanha de perto as articulações. A garantia de votações de propostas do Executivo, em especial as que rementem a promessas de campanha nas áreas econômica e de costumes, passa pelo êxito na relação com o Congresso, em especial, com quem é responsável por definir quais assuntos irão pautar os debates no Legislativo.