Depois de 120 dias carregando uma bolsa de colostomia, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) foi internado novamente neste domingo (27). Agora, para reconstituição do intestino grosso — ferido a faca em Juiz de Fora (MG) no mês de setembro — e para retirada do equipamento coletor de fezes.
A cirurgia no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, foi iniciada às 6h30min desta segunda-feira (28) e deve durar de três a quatro horas, sob o comando do cirurgião Antonio Luiz de Vasconcellos Macedo — a equipe é formada, ainda, pelos gastroenterologistas Julio Gozani e Rodolfo Di Dario, dois anestesistas e uma instrumentadora.
O período exato de recuperação somente será possível prever após o procedimento. Quando a cirurgia terminar, a equipe médica emitirá boletim com essa informação, mas especialistas na área, como o cirurgião do aparelho digestivo da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e do Hospital Moinhos de Vento Guilherme Bassols e o chefe do Serviço de Cirurgia do Aparelho Digestivo do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Richard Gurski, adiantam que a internação nesses casos dura, em média, de cinco a sete dias.
— No mesmo dia, ele já vai estar lúcido, podendo tomar decisões e fazer coisas que não exijam esforço. Em duas semanas, poderá mexer no computador, fazer atividades leves, mas ainda terá de evitar viagens longas — explica Bassols, que, além de ter a mesma formação do médico responsável pela cirurgia, o conheceu pessoalmente em 2017.
— É muito competente, um dos maiores cirurgiões do país, pioneiro na cirurgia robótica. Trouxe ele para um simpósio em Porto Alegre para falar do assunto há dois anos — relembra.
Risco de morte é considerado mínimo
O golpe que perfurou o abdômen do então candidato à Presidência, em 6 de setembro, durante campanha eleitoral, exigiu que a equipe médica costurasse na pele a porção do intestino que se conecta com a boca. Com isso, em vez de as fezes saírem pelo ânus, foram direcionadas para a bolsa. Esta é uma medida de segurança adotada, por exemplo, quando o paciente perde muito sangue.
— Ao costurar as duas porções do intestino, uma na outra, correria-se o risco de não haver cicatrização adequada. Então, usa-se a bolsa e espera o paciente estar mais bem nutrido, sem anemia para fazer a reconexão com a porção que leva as fezes ao ânus — conta Bassols.
O cirurgião do aparelho digestivo da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre considera o procedimento a que será submetido o presidente de alta complexidade, com risco mínimo de morte do paciente. As consequências podem ser diversas, como cicatrização inadequada, que poderia evoluir para infecção generalizada por vazamento de fezes e até ao óbito. Pneumonia, embolia pulmonar e infecções urinárias e no corte são algumas das demais possibilidades de complicações.
— Claro que o presidente estará sendo observado, e o risco de se chegar a uma infecção generalizada é muito baixo. A equipe tem condições de identificar o problema de cicatrização antes disso acontecer — pontua Bassols.
Infecção e vazamento são principais temores
Chefe do Serviço de Cirurgia do Aparelho Digestivo do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Richard Gurski considera o procedimento de emenda do intestino de média complexidade.
— Quem disser que uma cirurgia não oferece risco não sabe o que está falando. Neste caso, infecção e vazamento na costura são os principais — avalia o especialista.
Após 23 dias internado devido à facada, o então candidato à Presidência recebeu alta em 29 de setembro do ano passado. Em novembro, após bateria de exames, Bolsonaro teve adiada a cirurgia para retirada da bolsa. No boletim médico divulgado no dia 23 daquele mês, o hospital disse que o caso voltaria a ser avaliado em janeiro, após a posse, para definição do momento ideal do procedimento.
Neste domingo (27), já no hospital, Bolsonaro gravou vídeo onde diz que a operação deve começar por volta das 7h. Veja: