Maior partido do país em número de filiados, o PMDB chega às vésperas da campanha eleitoral com dois pré-candidatos à Presidência e o atual titular do cargo, mas vê sua bancada na Câmara minguar. Com 50 deputados, a legenda tem o menor número de parlamentares de sua história — redução de 53% em comparação com os 107 de 1995.
Levantamento feito pelo cientista político Jairo Nicolau, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostra que a queda é constante pelo menos desde 2013. Naquele ano, o PMDB tinha 81 deputados. Desde então, esse número vem caindo – a exceção é 2016, ano do impeachment de Dilma Rousseff e consequente ascensão de Michel Temer à Presidência. A recuperação foi pífia: passou de 65 para 66 deputados, mesmo diante da chegada ao poder.
– O PMDB se tornou uma bancada média – resume Nicolau.
A redução do número de deputados e também de militantes – foi a legenda que mais perdeu filiados em 2017 – coincide com o desgaste de Temer, alvo de duas denúncias da Procuradoria-Geral da República e outros dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal, na esteira das investigações da Operação Lava-Jato. Além das complicações jurídicas do principal expoente do partido, há problemas semelhantes nos diretórios regionais.
No Rio de Janeiro, até então o mais vigoroso reduto eleitoral do PMDB nos Estados, as maiores lideranças estão na cadeia, como o ex-governador Sergio Cabral, ou em prisão domiciliar, como ex-presidente da Assembleia Jorge Picciani. A bancada fluminense, que era a maior da sigla na Câmara, com 11 membros, agora tem somente dois, justamente os filhos de Cabral e Picciani, Marco Antônio Cabral e Leonardo Picciani. Dos três deputados da bancada da Paraíba, não restou nenhum.
– Essa é a maior crise da história do PMDB. O partido não tem programa, nenhum líder capaz de aglutinar as forças e tampouco perspectiva de poder a partir de 2019. Seja quem for o próximo presidente, talvez até possa abrir mão do PMDB para governar – alerta Nicolau.
Nascido durante o bipartidarismo imposto pela ditadura militar, o então MDB abrigou boa parte da oposição ao regime. O auge viria em 1986, na esteira do sucesso repentino do Plano Cruzado, quando a legenda elegeu nada menos do que 22 dos 23 governadores e 260 deputados federais, ocupando mais da metade das cadeiras da Câmara. O posterior fracasso do Cruzado e a impopularidade do presidente José Sarney acabaram por inviabilizar a candidatura presidencial de Ulysses Guimarães, que ficou em sétimo lugar, com 4% dos votos em 1989.
Desde então, o PMDB esteve em todos os governos, com maior ou menor grau de influência. A onipresença do partido na base de sustentação do Planalto, seja quem for o governante, é tamanha que chegou a cunhar um aforismo recorrente em Brasília, segundo o qual “é difícil governar com o PMDB e impossível sem ele.” Não por acaso, os momentos em que o partido deteve mais poder foi justamente quando não ocupava o principal gabinete do Planalto. Barganhando cargos e verbas em troca de apoio em votações importantes, a legenda se tornou fundamental para a governabilidade de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma.
– É o partido que melhor fez a leitura de como se encaixar no presidencialismo de coalizão, pois entendeu que é importante ter muitos candidatos a deputado federal e senador para depois manter o controle sobre as duas Casas – diz o cientista político Rafael Moreira, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP).
Ao perder parlamentares, o PMDB acabou engrossando as fileiras de aliados até então enfraquecidos, como o PP e DEM. Os dois partidos compõem o governo Temer e aproveitaram o desgaste do presidente para atrair novos deputados com promessas de reeleição mais tranquila. Dessa forma, foram os que mais cresceram no último ano.
Ministro da Secretaria de Governo e responsável pela articulação política do Planalto, Carlos Marun reconhece o “momento de dificuldade” do PMDB. Ele afirma que o partido é competitivo, ressaltando as duas pré-candidaturas à Presidência – do próprio Temer e do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, ambos com intenções de voto na última pesquisa Datafolha que ficam em 1% em quase todos os cenários –, e atribui a crise a problemas regionais, às investidas dos demais siglas e a suposto cerco à legenda.
– Muitos dos nossos deputados pensam que poderão se reeleger com mais facilidade em outros partidos. Isso é fruto da perseguição que sofremos de setores da mídia e também do Judiciário – afirmou Marun.