Música, debates e chuva marcaram o primeiro dia no Acampamento da Democracia, que permanece até quarta-feira no Anfiteatro Pôr do Sol, na Capital. Segundo a Frente Brasil Popular, organizadora do encontro, mais de 3 mil pessoas já estavam no local até a tarde desta segunda-feira (22) – a Brigada Militar não faz estimativa dos presentes. O número deve aumentar ao longo da manhã desta terça-feira (23), totalizando 5 mil militantes em vigília ao julgamento de Lula no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4).
A maior parte dos acampados se encontrou na noite de domingo (21) e na madrugada de domingo para segunda-feira nas proximidades da ponte do Guaíba. Na manhã de segunda (22), rumaram a pé até o centro da Capital. Eram pequenos produtores rurais do Rio Grande do Sul e de outros Estados ligados ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e à Via Campesina. O agricultor e caminhoneiro Vanei Puntel, 52 anos, veio de Sobradinho, no Vale do Rio Pardo. Para ele, a presença é um modo de militar pela reforma agrária:
– Estamos aqui para pressionar o governo para que libere lotes que estamos ocupando.
Além dos colonos, há também apoiadores de Lula com outros perfis. O estudante João Gabriel, 18 anos, por exemplo, veio de Santa Maria, na Região Central. Ele diz não estar ligado a algum movimento específico:
– Vim mais para acompanhar a movimentação, mas também pela questão democrática. O que está acontecendo agora tem base em algo que não foi provado. Estamos aqui para demonstrar isso.
Centenas de barracas iglu e estruturas improvisadas de lona protegiam os acampados das pancadas de chuva. Debates, saraus e apresentações musicais engajavam o público presente. Militantes conversavam entre si de maneira amena ou se ajudavam a reforçar os suportes para as lonas. A única pitada de agressividade vinha das marchinhas e funks entoados pelos mais jovens – "a crise é dos ricos/ e o pobre é que se fode/ no poder só tem playboy", dizia uma delas.
Em entrevista coletiva, o dirigente nacional da Via Campesina, João Pedro Stédile, assegurou que o clima seguirá pacífico até a desocupação do espaço, na quarta-feira (24), não havendo motivo para alarmismo:
– Houve muito exagero e muita firula, provocada pelo prefeitinho que temos aqui em Porto Alegre – avaliou Stédile. – O prefeito é que criou aquela celeuma, ameaçou chamar o exército. O MST e a Frente Brasil Popular já estiveram duas vezes em Curitiba. Levamos 50 mil pessoas lá. Não houve um arranhão.
Stédile acredita que 30 mil pessoas devem se reunir em um ato público marcado para terça-feira (23). Para ele, o encontro deve manter a mesma tranquilidade demonstrada no acampamento. Questionado sobre a declaração "Para prender Lula, vai ter de matar gente", da senadora Gleisi Hoffmann, Stédile afirmou que foi resultado do "calor do debate":
_ Compreendo a preocupação da Gleisi, mas acho que, como ela mesmo reconheceu depois, foi uma expressão desapropriada.