Após adiar a votação da reforma da Previdência, o governo irá apostar em três ações que, embora conhecidas, são vistas com potencial para ampliar o apoio de deputados indecisos. Mudanças no texto estão no horizonte, embora causem descontentamento na equipe econômica do Planalto. Novas emendas serão liberadas e cargos em ministérios que terão troca de comando a partir de abril, devido à proximidade das eleições, poderão ser redistribuídos. Há ainda a crença de que as campanhas publicitárias sobre a proposta irão gerar efeito positivo na população.
A atuação do Executivo terá duas frentes de trabalho até 19 de fevereiro, data prevista para a votação. Uma delas contará com um time de articuladores destacado para fazer corpo a corpo com parlamentares, incluindo prefeitos, que receberam a promessa de liberação de R$ 3 bilhões a prefeituras em 2018, caso a reforma seja aprovada. Integrantes de entidades representativas, como as confederações Nacional de Municípios (CNM), da Indústria (CNI) e do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), são aliados.
A outra frente vai atuar dentro de casa, no Planalto, com a missão de fechar o texto que será apresentado ao plenário da Câmara, já que ainda não há unanimidade quanto à possibilidade de uma desidratação maior da proposta. O Executivo seguirá imprimindo a marca do "combate aos privilégios", já que as regras mais duras atingem os servidores públicos, incluindo os que recebem os maiores salários.
Nos bastidores, categorias do funcionalismo se articulam para que o impacto de eventual mudança seja reduzido. Quem foi nomeado nos quadros da União antes da reforma previdenciária de 2003, que nas normas atuais tem garantidas a aposentadoria integral e a paridade de reajuste dos servidores da ativa, pede uma regra de transição, pois a proposta exige idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres. Parte dos interlocutores do Planalto diz que há a possibilidade de atender à demanda. O relator da proposta, deputado Arthur Maia, diz claramente que o texto ainda poderá ser modificado, o que não ecoa bem entre as pastas econômicas da Esplanada.
Os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira, deixam a porta aberta para alterações, desde que não causem impacto significativo na previsão de economia, inicialmente projetada em R$ 800 bilhões nos próximos 10 anos, mas reduzida para R$ 500 bilhões após concessões. Um dos principais articuladores do Planalto, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) é contra qualquer mudança. Ele esperava que o texto da reforma fosse lido em plenário na última semana para garantir essa condição, o que não aconteceu.
Sou radicalmente contra concessões. Traria cinco, seis votos. Não adiantaria nada.
DARCÍSIO PERONDI (PMDB-RS)
Vice-líder do governo na Câmara
Aposta em novo orçamento e propaganda na TV
Na Câmara, a previsão é de que as articulações sobre a reforma serão interrompidas apenas nos primeiros dias de 2018. As conversas voltarão com força, principalmente, na segunda quinzena de janeiro. Até lá, a intenção é liberar emendas prometidas e, eventualmente, negociar cargos nos ministérios que ficarão vagos a partir de abril. O Executivo também aposta no aumento da simpatia da população à proposta.
— Teremos orçamento novo e mais tempo para mostrar na TV que a reforma não atinge os mais pobres — relata um deputado com trânsito no Planalto, afirmando que pesquisas apontam crescimento no apoio ao texto.
Apesar da aparente confiança em relação à base aliada, os bombeiros destacados pelo Executivo para apagar focos de incêndio contabilizam poucos êxitos. No PSD, uma das siglas mais resistentes à reforma, a sensação é de que houve aumento de apoio. O PR segue visto como problema, embora o líder do partido na Câmara, José Rocha (BA), acredite que os apoiadores da reforma cheguem a 25, entre os 37 parlamentares da legenda.
À primeira vista, seria concessão adicional, mas estamos em um processo de negociação. Eventualmente, alguma concessão poderá ser feita. Não é o que gostaríamos, mas faz parte da discussão.
DYOGO OLIVEIRA
Ministro do Planejamento
No PMDB, partido de Michel Temer, não há unanimidade. O líder na Câmara, Baleia Rossi (SP), que foi reconduzido ao posto na última semana, minimiza a situação e diz que haverá avanço.
— O PMDB está tranquilo e crescendo semanalmente — disse, projetando entre seis e 12 deserções entre os 60 deputados da sigla.
O governo desistiu de votar a proposição em dezembro após constatar que havia estacionado entre 260 e 270 votos. Para apresentar o texto em plenário em fevereiro, precisará de, ao menos, 320 apoiadores. A margem de segurança é para garantir, sem sustos, os 308 votos necessários para que a reforma da Previdência não seja engavetada.
O líder do PT na Câmara, Carlos Zaratini (SP), avalia que o empenho governista não surtirá efeito. Para ele, a população é contrária ao texto e pressiona os deputados nos Estados de origem, o que deve dificultar o apoio ao governo em plenário. O parlamentar diz que a pressão exercida pelo mercado para a aprovação também não deve impactar significativamente o placar:
— Vivem com esse negócio de mercado. Mas mercado não vota.