O contador João Muniz Leite confirmou ao juiz federal Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, nesta sexta-feira (15), ter levado "14 ou 15" recibos de aluguel do apartamento vizinho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo, ao engenheiro Glaucos da Costamarques, para que fossem assinados. Ele negou saber se, de fato, o ex-presidente pagou pelos aluguéis. Para a força-tarefa da Lava-Jato, os valores nunca foram pagos porque o imóvel seria suposta propina da Odebrecht.
Muniz diz ter ido ao hospital Sírio-Libanês ao final de 2015, após a cirurgia de Glaucos, primeiramente como "amigo". Na oportunidade, afirmou que havia documentos referentes a 2014 pendentes de assinatura. Ele diz ter voltado em outras duas visitas para que fossem rubricados.
— Nessa visita, eu fui para colher assinatura dos recibos. Quando eu cheguei, ele estava em sedação, e não tive como falar com ele na primeira. Eu aguardei e esperei para voltar mais tarde. Levei os recibos para assinar. Um total de 14 ou 15 recibos, não recordo a quantidade, mas eram todos do período de 2014 e 15 completos — afirmou.
Segundo Muniz, a urgência para assinar os documentos se dava em razão de Glaucos morar em Mato Grosso e seria aquela uma oportunidade para regularizar a documentação do imóvel.
A Lava-Jato sustenta que o apartamento vizinho à residência do ex-presidente Lula, em São Bernardo do Campo, de número 121, no edifício Hill House, no valor de R$ 504 mil e o terreno onde seria sediado o Instituto Lula, em São Paulo — R$ 12 milhões — foram bancados pela Odebrecht como forma de propinas oriundas de contratos com a Petrobras. De acordo com os procuradores e os executivos da construtora a empresa DAG Engenharia e Glaucos da Costamarques foram utilizados para maquiar a titularidade dos imóveis.
A defesa do ex-presidente alega que Lula pagou pelo aluguel do apartamento e que não aceitou o imóvel para a sede do Instituto.
Já a Lava-Jato afirma, em denúncia, que o presidente nunca pagou os aluguéis do imóvel vizinho à sua residência, no edifício Hill House.
Lula entregou recibos a Moro do pagamento dos aluguéis. Dois comprovantes apresentam datas que não existem no calendário. Parte dos documentos ainda apresenta os mesmos erros de ortografia. O Ministério Público Federal abriu investigação sobre a autenticidade dos recibos.