A revista Veja revelou, nesta sexta-feira (6), o conteúdo de novas gravações entregues à Procuradoria-Geral da República pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS. Segundo a publicação, em um dos áudios, o empresário promete repassar dinheiro para o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do partido.
— Agora vai dar para começar…E vamos fazer de 500 em 500 — disse Joesley, em conversa realizada em sua casa em São Paulo.
O parlamentar teria respondido:
— Você me ajudou muito na eleição. Ajudou o meu partido. Eu quero lhe ajudar.
Em setembro, ao prestarem depoimento na Polícia Federal, Joesley e o executivo Ricardo Saud confirmaram o pagamento de propina a Ciro Nogueira, por meio de uma mala de dinheiro e por doações de campanha não contabilizadas.
Ainda segundo a Veja, o diálogo ocorreu enquanto Joesley tomava whisky e comia costela. O empresário quis saber mais detalhes da influência de Ciro na Caixa Econômica Federal.
— Como você está lá com o Occhi? — questionou o empresário, referindo-se ao presidente do banco estatal, Gilberto Occhi.
O senador do PP teria respondido:
— Nós temos lá o presidente…o de operações, o de varejo, que é contratação do Occhi (…) A de habitação é minha. Um cara do Piauí.
A matéria ainda informa que o parlamentar demonstrou que partido mantinha influência na Fundação dos Economiários Federais (Funcef), fundo de pensões dos funcionários da Caixa, e na CaixaPar, braço de investimentos do banco estatal. Tanto uma como a outra controlam um caixa bilionário.
A Veja esclarece que, pelo contexto da conversa, não fica claro se Joesley solicitou uma ajuda específica para destravar um negócio na Caixa e se de fato houve pagamento de propina.
Em outro trecho do diálogo, o parlamentar ainda diz que estava atendendo a um pedido do empresário:
— Aquele negócio do seu amigo…Está lá…Só para você saber. Ele montou uma empresa. Na licitação, a empresa que ele montou identificou a proposta (…) Estou vendo se consigo ajudar com outras coisas lá…
Em outro momento do áudio, Ciro Nogueira discute com Joesley uma estratégia para exercer influência nas decisões do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), responsável pelo controle da concorrência no país.
— No que você puder ajudar, até botar…somar…Porque vai nomear mais um e mais um também. Aí, com isso aí, se botar gente nossa, ele pode perder na maioria. Agora é melhor colocar outra pessoa para somar com o Alexandre (Barreto de Souza, atual presidente do Cade). Então, botar alguém de vocês. Tem um cara lá que quero ver se o Eunício (Oliveira, presidente do Senado) apadrinha (…) Se eu conseguir botar esse cara, resolvo. Ou então eles botam alguém para somar com o meu. Quero ter a maioria”, disse Ciro. “O que interessa é resolver, né? Vou ver esse negócio do Cade, então — teria respondido o empresário.
A publicação esclarece que, no momento em que ocorreu a conversa, a JBS estava em pé de guerra com a Petrobras no Cade para resolver uma disputa envolvendo o preço do gás fornecido pela estatal a uma companhia de Joesley. O imbróglio acarretava perdas de um milhão de reais para uma termelétrica do grupo J&F, dono da JBS.
Na conversa, Ricardo Saud e o senador Ciro Nogueira também comentam os rumos da Operação Lava Jato e casos de prisões específicas como a do ex-bilionário Eike Batista.
— A prisão do Eike? Qual o motivo da prisão, cara? (…) O cara voltou, denunciou que não tava querendo fugir e qual o motivo? — teria questionado o parlamentar.
Na sequência, Joesley Batista analisa o riscos de ele próprio e de políticos acabarem atrás das grades.
— A Lava-Jato comemorou três anos, né? Três anos que nós tá vendo esse circo de braço cruzado ainda. Três anos barbarizando, barbarizando (…) mesmo comboio (…) uma conversa com Eduardo Cunha, ele no auge. Eu lembro lé em casa em Brasília ‘Eduardo, c…, nós vai tudo pra cadeia, nós vai preso, Eduardo’. ‘Não, não vamo’. Já passou 2015, 2016 e eu abri o jornal e três anos de Lava-Jato. (…) Essa turma lá só trabalhando — diz.