Joesley Batista, um dos donos da JBS, aparece em um dos áudios recuperados pela Polícia Federal (PF), conversando com um interlocutor chamado "Gabriel". A ele, Joesley diz ter aconselhado um amigo sobre o que levar em consideração na hora de decidir por um eventual acordo de delação premiada. Se tinha "batom na cueca", era melhor delatar, teria afirmado o empresário, segundo a gravação obtida pela revista Veja.
— Ô, meu, é a coisa mais simples do mundo, porque se você tem problema e o problema é, como se diz, batom na cueca, ô, meu, corre lá e faz a p. dessa delação", disse Joesley ao interlocutor, que, segundo a Veja, seria o deputado federal Gabriel Guimarães (PT-MG).
Na conversa, o empresário também teria detalhado como agiu para aliciar o procurador Ângelo Goulart Villela e sua interlocução com o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Em outra gravação, em que conversa com os executivos Ricardo Saud e Francisco Assis e Silva e a advogada da JBS, Fernanda Tórtima, Joesley explica porque decidiu deixar o Brasil:
— Ainda vou pra Nova York, vou amanhecer em Nova York, se Deus quiser. Eu vou ficar aqui, Fernanda? Cê tá louca? Soltar uma bomba dessa aí e ficar aqui fazendo o quê?.
O áudio é um dos materiais sonegados ao Ministério Público Federal e que levaram o então procurador-geral da República Rodrigo Janot a pedir a rescisão do acordo de delação e a prisão de Joesley e do executivo Ricardo Saud.
Por meio de nota, A J&F informou que os áudios obtidos pela revista "Veja" estavam entre as gravações entregues à PF ainda antes do acordo de delação, mas eram mantidos sob sigilo pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin. As gravações não estão entre as que foram entregues acidentalmente à PGR pelos executivos da empresa e não são mais recentes que as demais já divulgadas, diz a nota publicada pela revista.
O texto informa que o material estava sob a guarda de Fachin, com sigilo decretado por se tratar de diálogos entre advogados e clientes, e havia sido considerado quando o acordo de delação dos executivos da JBS foi homologado.
Governo fala em armação
A Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República divulgou nota nesta sexta-feira (29), afirmando que, a cada nova revelação das gravações acidentais dos delatores do grupo JBS, "demonstra-se cabalmente a grande armação urdida desde 17 de maio contra o presidente Michel Temer".
O Planalto compara as acusações contra Temer com as feitas na época da inquisição e pede punição em "todas as esferas". "Não se pode mais tolerar que investigadores atuem como integrantes da santa inquisição, acusando sem provas e permitindo a delatores usarem mecanismos da lei para fugir de seus crimes. Cabe agora, diante de tão grave revelação, ampla investigação para apurar esses fatos absurdos e a responsabilização de todos os envolvidos, em todas as esferas", diz o texto.