O ex-ministro Antonio Palocci é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de atuar de forma "ilícita" para beneficiar o Grupo Odebrecht na contratação pela Petrobras de estaleiros nacionais. Esses estaleiros atuam na construção de plataformas e navios-sonda para exploração de petróleo dos campos do pré-sal – negócio de mais de US$ 21 bilhões, que envolveu a criação da empresa Sete Brasil.
A informação consta em denúncia contra o petista que deve ser analisada nesta semana pelo juiz federal Sergio Moro, que conduz a Operação Lava-Jato na primeira instância, em Curitiba.
Leia mais:
Odebrecht e Palocci se reuniram 27 vezes, diz Lava-Jato
Lava-Jato cobra R$ 505 milhões de Palocci, Odebrecht e mais 13 para a Petrobras
Em depoimento prestado à Lava-Jato em outubro, o senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) afirmou que Palocci participou, mesmo fora do governo, da formação da Sete Brasil, em 2011. A empresa, responsável pela contratação de estaleiros para fornecimentos de 28 plataformas e sondas para a Petrobrás, é uma sociedade da Petrobrás com os bancos BTG Pactual, Bradesco e Santander, os fundos de pensão federais Petros e Previ e o fundo de pensão da Vale do Rio Doce.
"O modelo de cobrança de propina que já existia na Petrobras foi levado também à Sete Brasil", afirmou Delcídio, que virou delator da Lava-Jato após ser preso em novembro de 2015 por tentar comprar o silêncio do ex-diretor da estatal Nestor Cerveró.
"Palocci participou de toda estruturação econômica da Sete Brasil", afirmou. Delcídio disse ainda que Palocci atuou na "engenharia financeira" da Sete Brasil e na "consolidação dos grupos empresariais" que foram contratados.
Preso desde 26 de setembro, o ex-ministro foi acusado formalmente por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, apontado como "ponte" entre a Odebrecht e o governo federal.
Segundo a denúncia, em 2011, quando soube que o estaleiro controlado pelo seu consórcio havia sido derrotado em processo licitatório, Marcelo Odebrecht, presidente afastado do grupo, enviou um e-mail ao assessor de Palocci pedindo um encontro com o ex-ministro. "Aquele assunto do petróleo não está indo bem", escreveu Odebrecht.
Para os procuradores, "era nítido no e-mail: instar Antonio Palocci para que interferisse nas decisões a serem adotadas pela alta administração do governo federal, a fim de resolver questões de interesse da Odebrecht relativas a contratos com a Petrobras".
A Sete Brasil diz que "colabora com as investigações". O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, afirma que as acusações contidas na denúncia "são uma peça de ficção."