Para tentar estancar a crise provocada após a demissão do ministro da Cultura, Marcelo Calero, o ministro Geddel Vieira Lima pediu demissão da Secretaria de Governo. Geddel cedeu às pressões de dentro do próprio Palácio do Planalto e entregou a carga de demissão na manhã desta sexta-feira.
Com a saída do peemedebista, já são seis ministros que deixaram o governo de Michel Temer desde maio. A média é de uma saída por mês no primeiro escalão do Planalto. O primeiro a deixar a o cargo foi Romero Jucá, que se afastou do Ministério do Planejamento em 23 de maio após o vazamento de uma conversa com ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, na qual ambos discutiam a necessidade de "estancar a sangria" representada pelas investigações da operação Lava-Jato.
Em sua carta de demissão, Geddel escreve que "avolumaram-se as críticas sobre mim. Em Salvador, vejo o sofrimento dos meus familiares. Quem me conhece sabe ser esse o limite da dor que suporto. É hora de sair".
Veja a íntegra da carta:
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Geddel pede desculpas. "Diante da dimensão das interpretações dadas, peço desculpas aos que estão sendo por elas alcançados, mas o Brasil é maior do que tudo isso." Geddel explica que fez uma "profunda reflexão" sobre o quadro e decidiu, por isso, pedir exoneração "do honroso cargo que com dedicação venho exercendo".
O ministro demissionário informa que vai retornar à Bahia, mas seguirá como "ardoroso torcedor" do "nosso" governo e classifica Temer como um presidente "sério, ético e afável".
Ele ainda agradece aos congressistas pelo "apoio e colaboração que deram na aprovação de importantes medidas para o Brasil". E conclui chamando Temer de "querido amigo".
A crise no governo federal se agravou na quinta-feira, depois da divulgação do depoimento de Calero à Polícia Federal. Dias antes de deixar o governo, o ex-ministro gravou conversas com Geddel, com o presidente Michel Temer e com o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.
No depoimento à PF, Calero narrou ter recebido pressão de vários ministros para que convencesse o Iphan a voltar atrás na decisão de barrar o empreendimento La Vue, onde Geddel diz ter adquirido um apartamento, nos arredores de uma área tombada de Salvador.
Em 6 de novembro, Calero afirmou ter recebido "a mais contundente das ligações" de Geddel. No telefonema, o ministro da Secretaria de Governo deixou claro "que não gostaria de ser surpreendido com qualquer decisão que pudesse contrariar seus interesses".
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Na versão do ex-ministro da Cultura, Geddel disse, "de maneira muito arrogante", que, se fosse preciso, "pediria a cabeça" da presidente do Iphan, Katia Bogéa, e falaria até mesmo com Temer.
Calero contou à PF que tanto Padilha quanto Temer insistiram para que ele levasse o processo sobre o prédio à Advocacia-Geral da União. Relatou ainda sua contrariedade com as pressões e desabafou com Nara de Deus, chefe de gabinete de Temer, que teria ficado "estupefata".
Segundo Calero, a decisão de deixar o governo veio depois da conversa com Temer e quando o secretário de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha, telefonou para ele demonstrando a "insistência do presidente" em fazer com que ele interferisse "indevidamente" no processo, enviando os autos para a AGU.
*ZH com agências