A detenção do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, preso temporariamente nesta segunda-feira durante a 35ª fase na Operação Lava-Jato, repercutiu entre os senadores. A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) pediu a convocação do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, para que compareça à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado para explicar o "uso político da Polícia Federal". A parlamentar diz que Moraes antecipou que "haveria mais Lava Jato" nesta semana durante atividade de campanha eleitoral de um candidato do PSDB em Ribeirão Preto.
– Hoje fomos surpreendidos com a notícia da prisão do ex-ministro Palocci, que é exatamente da mesma cidade (Ribeiro Preto) em que ele (ministro da Justiça) se encontrava ontem. A Lava-Jato está tropeçando nas próprias pernas. Para além do combate à corrupção, é uma operação de perseguição a determinadas figuras da política brasileira.
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, garantiu que foi informado sobre a nova ação da PF apenas na manhã desta segunda-feira.
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Por meio de sua conta no Twitter, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) questionou a autonomia da Polícia Federal (PF) pelo fato de o ministro da Justiça saber "com antecedência" as operações da PF na Lava-Jato. Para a senadora, há seletividade nas operações da força-tarefa.
Repercussão governista
Para o senador Álvaro Dias (PV-PR), a prisão de Palocci revela que a investigação está chegando ao núcleo central do esquema de corrupção.
– Ele era o principal elo do governo do PT com o empresariado brasileiro. Tinha muita influência no governo e no partido. Certamente, tinha influência nesse esquema de corrupção. Isso mostra que a força-tarefa responde às críticas infundadas com ação – afirmou.
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), também comentou a nova etapa da Lava-Jato.
"A Lava-Jato começa a chegar no BNDES que, sob o comando do PT, teve como finalidade direcionar recursos para operações corrompidas" afirmou, em sua conta no Twitter.
A suspeita é de que Palocci teria ligação com o comando da empreiteira Odebrecht, uma das principais do país. A operação investiga se o ex-ministro e outros envolvidos receberam dinheiro para beneficiar a empreiteira em contratos com o governo.
Segundo a PF, as negociações envolviam a Medida Provisória 460, de 2009, que tratava de crédito-prêmio do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), além do aumento da linha de crédito da Odebrecht no Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para um país africano, além de interferência em licitação da Petrobras para a aquisição de 21 navios-sonda para exploração da camada pré-sal.
Nota do ministro da Justiça
Em nota, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, disse que, desde que assumiu o cargo, a PF vem tendo total apoio.
"Em quase todas as semanas, houve operação e que, certamente, continuariam nessa semana, na próxima e enquanto houver necessidade", informou o comunicado.
Moraes reiterou que as investigações da Lava-Jato são compromisso do governo federal e garantiu a continuidade da atuação independente da PF.
Polícia Federal
A PF também divulgou nota para esclarecer que somente as pessoas diretamente responsáveis pela investigação têm conhecimento de seu conteúdo.
"Como já foi amplamente demonstrado em ocasiões anteriores, o Ministério da Justiça não é avisado com antecedência sobre operações especiais. No entanto, é sugerido ao seu titular que não se ausente de Brasília nos casos em que possam demandar sua atuação, não sendo informados a ele os detalhes da operação", diz o comunicado.