O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou a decisão do Senado de manter os direitos da presidente cassada Dilma Rousseff de exercer funções políticas em julgamento que a afastou definitivamente do cargo no dia 31 de agosto. As declarações foram dadas na quarta-feira.
– Vejam o que aconteceu com o Brasil. Contra a Constituição, o Senado declarou que a pessoa que sofreu o impeachment tenha seus direitos políticos. É uma contradição – disse o tucano durante o seminário Democracias Turbulentas e o Sistema Internacional, realizado pela Fundação FHC.
Para ele, a decisão representou "pouco respeito à rule of law (regra da lei)".
– É muito mais um problema de atraso político cultural. Isso não é uma coisa que esteja condensada num partido, se de esquerda ou de direita, mas está em todos os lados – afirmou o ex-presidente, em referência ao que considera idiossincrasias da cultura política nacional.
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Para FHC, a democracia brasileira ainda está em processo de evolução.
– É que uma boa parte dos agentes políticos quer um vínculo com o Estado para salvar vantagens, para si mesmo, para seu grupo corporativo. São clientelistas, patrimonialistas. Nesse sentido, temos evoluído? Creio que sim.
O ex-presidente deu como exemplo a votação que aprovou o processo de impeachment de Dilma na Câmara.
– Quem assistiu à sessão ficou horrorizado. As motivações são as mais bizarras – disse.
FHC afirmou ainda considerar que o clientelismo é uma prática cultural no Brasil.
Reformas
Fernando Henrique avaliou que os direitos sociais conquistados com a Constituição de 1988 estão assegurados, sem retrocessos, pelo fato de haver hoje uma cobrança social.
– Isso tudo imbricado numa sociedade onde todos têm um computador em seu bolso, as redes sociais funcionam, a fragmentação da informação é enorme, existe respeito à pessoa humana – afirmou.
Em sua avaliação, mesmo na atual fase de "desordem fiscal e paralisia", o governo deve realizar as reformas necessárias para o País voltar a crescer.
– Atualmente, no Brasil, seja quem seja, não pode fazer nada. Mas acho que é temporário. Inclusive certos temas que aqui são atuais, certas reformas, são muito difíceis de alcançar, mas somente se alcança nesses momentos ("de desordem e paralisia") porque é tão dramático que é preciso avançar – concluiu.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.