Após divergências entre PMDB e PSDB sobre o reajuste salarial dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), as bancadas dos dois partidos concordaram em segurar o projeto no Senado e dar encaminhamento a uma alternativa: a desvinculação do subsídio dos ministros do restante da administração pública, o que impediria o "efeito cascata" nas contas de governos estaduais.
A ideia havia sido cogitada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na semana passada e foi confirmada na segunda-feira. A proposta ganhou apoio da bancada do PSDB, partido resistente ao projeto de reajuste dos ministros, visto como uma ação contrária ao ajuste fiscal.
Os parlamentares já escolheram até mesmo a forma de tramitação: uma Proposta de Emenda à Constituição, de autoria da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que aguarda votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) desde setembro de 2015.
Leia mais
Nova fase da Acrônimo mira sobrinho do governador de Minas Gerais
Plano de concessões terá mudanças nas regras de financiamento
Cunha perde foro privilegiado e investigações devem ser enviadas para Moro
Renan já confirmou que o reajuste do Supremo não entrará na pauta do plenário antes de novembro – a proposta é elevar o salário de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil. O objetivo é segurar o assunto até que a desvinculação do subsídio seja aprovada. Do contrário, o efeito cascata seria de R$ 5 bi para o governo federal. No Estado de São Paulo, calcula-se um aumento de R$ 600 mi nos gastos com a Justiça no próximo ano. Segundo o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), o montante equivale a 10% do que o Estado vai investir em 2017.
Líder do governo Michel Temer no Senado, Aloysio já havia conversado com Gleisi para dar encaminhamento à PEC.
– Hoje, quando se aumenta o subsídio do Supremo, automaticamente esse aumento se transmite para toda a magistratura federal e estadual, sem precisar de lei. Isso tem de ser revisto – afirmou.
A petista vai pedir nesta terça-feira, a reinclusão da PEC na pauta da CCJ. Senadores da base de Temer devem respaldar a articulação.
– A PEC é necessária, independentemente de quem esteja no governo. Se continuarmos com esse efeito cascata no aumento dos salários, que impacte Estados, municípios e também outros setores do governo federal, vai ser difícil de administrar a folha de pessoal – disse Gleisi.
Com o apoio do PT, a PEC teria o suporte das três maiores bancadas do Senado, que juntas detêm a metade dos 81 senadores. Para aprová-la, são necessários 49 votos no plenário.
Projeto
Pela Constituição, tão logo o STF se beneficia de um novo vencimento, automaticamente os ministros de tribunais superiores recebem reajuste para ganhar 95% desse valor. Essa vinculação também se estende aos demais magistrados. Na prática, o reajuste chega a todos juízes federais e estaduais. O projeto de Gleisi determina o fim da vinculação automática. Dessa forma, reajustes teriam de ser aprovados pelo Congresso e pelas Assembleias.
Duas sinalizações foram definitivas para a mudança de estratégia na base governista: a nova presidência do Supremo – Cármen Lúcia não tem o aumento como prioridade; e a declaração do presidente Temer que, em entrevista ao jornal O Globo de domingo, disse ser contra o reajuste.
Governadores contestam reajuste e desvinculação
Governadores que participaram na segunda-feira, da posse da nova presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, questionaram o momento para o reajuste aos integrantes da Corte, preocupados com o impacto nos Estados.
– Este é um momento de grande crise fiscal e de grande sacrifício dos servidores públicos do Brasil inteiro. Não é o momento adequado para se discutir esse tema – disse o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), contrário ao reajuste.
Nesta terça-feira, governadores têm reunião com a nova presidente do STF, mas, segundo Alckmin, a questão do reajuste não está na pauta.
– Nossa reunião é sobre questão penitenciária, sobre precatórios – afirmou o tucano.
Para o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), um aumento, neste momento de crise, precisa ser visto com "cuidado". Sobre a possibilidade da desvinculação, Jatene afirmou que qualquer ação que "possa parecer algum tipo de artifício" pode gerar desconfiança.
– Estamos todos no mesmo barco e esse barco só terá travessia menos traumática se o custo for efetivamente socializado, distribuído por todos os segmentos – disse.
Apesar de dizer que não é contra o aumento, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), afirmou ver a necessidade de se criar um "freio geral" para os gastos públicos.
"Prudência"
Correligionário do presidente Michel Temer, o governador de Tocantins, Marcelo Miranda, disse que o caso é um assunto federal, mas questionou o "timing".
– Será que o momento é esse? O momento é de muita reflexão, é preciso prudência porque poderemos não conseguir fechar as contas.
Oposição ao governo Temer, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse ser contrário ao aumento. Para ele, é preciso "cautela". Dino também se posicionou contra a proposta de desvinculação do aumento ao Supremo do resto do funcionalismo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.