Na penúltima etapa do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff no Senado, com início nesta terça-feira, a bancada do PT definiu como estratégia que tentará paralisar os trabalhos. O argumento são as citações dos nomes do presidente interino Michel Temer e do ministro das Relações Exteriores, José Serra, em acordo de delação premiada que a Odebrecht negocia com o Ministério Público Federal na operação Lava-Jato. Os petistas também estudam ir ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar brecar o avanço do impeachment.
Segundo executivos da empreiteira, Serra teria recebido R$ 23 milhões para a campanha presidencial de 2010 via caixa dois. Já Temer teria solicitado que a empresa repassasse R$ 10 milhões para candidato do PMDB.
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– Vamos pedir que a sessão seja suspensa e que o impeachment seja sustado, com ampla investigação dessa denúncia. É um contrassenso ter uma presidente julgada por decretos orçamentários chamados de pedaladas enquanto o interino está sob acusação de propinas e caixa dois – afirma o senador Humberto Costa (PE), líder da bancada do PT.
Ele ainda informou que o partido deverá apresentar 11 questões de ordem na sessão do Senado, que será comandada pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski, e terá o objetivo de decidir se há elementos para julgar Dilma, com base no relatório de Antonio Anastasia (PSDB-MG). Uma reunião da bancada do PT com a sua equipe jurídica, na noite desta segunda-feira, baterá o martelo sobre o conteúdo final das questões de ordem.
– O voto dos senadores não é apenas para afastar Dilma, ele também blinda ou não Michel Temer – diz o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
O raciocínio do petista é de que a saída definitiva de Dilma será benéfica para Temer, que, como presidente da República, não poderia mais ser investigado por atos ocorridos antes do exercício do mandato. Neste cenário, ele poderia ficar protegido das citações da Odebrecht.
Nos bastidores, as chances de prosperarem as questões de ordem e pedidos de suspensão do PT são consideradas remotas. Os próprios petistas reconhecem, reservadamente, de que se trata de estratégia mais focada a demarcar posição. Os adversários de Dilma estão confiantes e acreditam no desfecho desta etapa com aumento dos votos em favor de Temer.
– O que o PT está querendo é procrastinar o processo. O país não pode esperar. O que os petistas desejam é embrulhar o país com questões de ordem que já foram esclarecidas e discutidas à exaustão na comissão do impeachment. Tenho impressão é de que o placar será superior aos 55 votos – disse o senador José Agripino Maia (RN), presidente do DEM, citando o placar a favor do afastamento de Dilma alcançado na votação de maio, a primeira no Senado.
Para avançar à fase final de julgamento, é necessário maioria simples de votos, o que significa metade mais um entre os presentes.